Tenho pra mim que o poema nasce no centro do peito
Bem lá no fundo
É o que poderia ter virado um grito
Um vômito
Um espasmo
Ou uma mentira crônica
Mas escolheu descer e se enraizar na sola dos pés
Onde vai tomar corpo
Sim. É nos pés que um poema se encorpa
Nos pés daqueles que escolheram não calçar
E se alimentam das andanças com os pés no chão
Porque poemas se formam no interstício entre o caminhante e o caminho
Num exíguo espaço
Que quase sempre dói
Dos pés, os poemas seguem direto para a palavra
Escrita, falada ou cantada
E só depois que se tornam palavra,
Depois de saírem
Podem entrar novo pelos olhos, pelos ouvidos, pelos dedos...
Para voltarem ao peito
E lá morar
Mas um aviso:
Poemas devem circular entre o peito é os pés
Nunca devem ir para a cabeça
Pois a cabeça é o tumulo do poema
Outro aviso:
Poemas podem ficar presos no pé
Lá eles estão se fazendo
Ou ao menos deixando seus rastros pelo caminho
Todavia, nunca deixe um poema preso no peito
Nada pior que morrer no mesmo lugar em que se nasceu
Nada mais melancólico que não fazer bom uso dos próprios pés
Rita Almeida
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