sexta-feira, 9 de maio de 2008

A “novela Ronaldo”

Por: Rita de Cássia de A Almeida


Esta semana os holofotes de desviaram, um pouco, do “caso Isabela” para o “caso Ronaldo/Fenômeno”. A imprensa descobriu que dar um tom novelístico para as matérias rende pontos na guerra da audiência, sendo assim, a “novela Ronaldo”, deve ainda durar alguns dias, até que outra “novela” se instale. Neste mundo de imagens, onde o que importa não é ser ou nem mesmo ter, o que importa é parecer ser e parecer ter, Ronaldo nos escandaliza porque faz cair uma imagem, imagem que tínhamos dele, produzida pela mídia, pela sua posição de garoto propaganda, e por nós mesmos que não cansamos de procurar por heróis. Na era das cirurgias plásticas, do fotoshop, da ojeriza completa à celulite, ao peito caído, às rugas, qualquer espécie de retoque para ficar bem na fita fica aprovado, seja ele qual for. Mas este é o problema das coisas que construímos com imagens, elas se desfazem ao mínimo abalo porque não têm consistência, ou melhor, nem mesmo têm a pretensão de terem consistência. Por isso, rapidamente, a imprensa divulga que Ronaldo corre o risco de perder contratos milionários de publicidade, e o UNICEF tratou rapidamente de veicular que Ronaldo não é seu embaixador, afinal, ninguém quer ser associado a um “sujeito que se envolve com travestis”. Sem contar o quanto de preconceito que esta proposição carrega e sem entrar do mérito do caso, o que me chama a atenção é a rapidez com que uma imagem se desfaz. E vou confessar, não sem uma certa dose de pudor, que sinto certa simpatia por sujeitos feito Ronaldo, e temos muitos outros exemplos de “celebridades” que seguidamente se envolvem em algum “escândalo” porque ousam fazer coisas que não condizem com a imagem que fizeram delas. É claro que Ronaldo não planejou isso conscientemente, ninguém em sã consciência, arrisca a jogar pelo ralo 20.000.000, 00 de dólares (valor que recebe em publicidade por ano) pra “tirar uma” no motel. Mas isso deixa o fato mais interessante, porque nos indica que por mais que se insista em maquiar ou produzir uma imagem de bom moço e herói, o sujeito, aquele de carne e osso, como qualquer mortal, comparece com sua verdade, cheia de estranhezas, incomposturas, deslizes e pecados. Não quero dizer com isso que abomino os bons moços e boas moças, até porque não acredito que ninguém seja totalmente bom ou totalmente mau, o que abomino é esta produção de bons moços e boas moças, belos e belas, regadas a maquiagens, plásticas, retoques e muita, muita hipocrisia, e a cegueira da maioria das pessoas para enxergar estas produções como toscas e medíocres. Eu não tenho acompanhado o “caso Ronaldo”, não sei qual foi o tom das explicações que ele deu sobre o fato, mas minha simpatia por ele aumentaria se soubesse que ele esteja deixando falar o Ronaldo, se esquivando o tanto quanto for possível do Fenômeno. Numa época onde impera a hipocrisia, momentos, ou ainda que relances de autenticidade precisam ser valorizados, pois são uma raridade.