quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"Como educar adolescentes"

Por Rita de Cássia de Araújo Almeida

psicanalista

Se você espera ler alguma espécie de manual sobre como educar filhos, esqueça. O título deste artigo é apenas uma ironia, por isso está entre aspas. Afinal os manuais são mesmo como dizem: muito bonitos na teoria. Na prática, cabe a cada um construir seu próprio estilo de educar.

Nossa sociedade não tem nenhum ritual de passagem que faça a marcação da entrada do sujeito na fase adulta, o que, na minha opinião, dificulta muito as coisas. Então, somos jogados irremediavelmente nesse limbo entre a infância e a idade adulta, que aprendemos a chamar de adolescência. A adolescência fica então caracterizada como um lugar intermediário por excelência, uma espécie de purgatório que precisamos atravessar para chegarmos no “mundo adulto” (se é que isso realmente existe). Mas, se é difícil passar pela adolescência, não é menos difícil ser pai ou mãe de adolescentes.

Os bebês são encantadores, porque nos fazem sentir importantes, necessários, e mesmo fundamentais. Mesmo os pais mais desconfortáveis com a existência se rendem a poderosa sensação de encarnarem os seres mais importantes da face da terra, ao se depararem com um serzinho que depende totalmente deles. E amamentar então? Me digam as que já experimentaram... É sublime.

Já as crianças pequenas são adoráveis. Estão descobrindo o mundo, e acreditam que nós, seus pais, sabemos tudo, que temos todas as respostas. Somos seus mestres e seus heróis. Elas nos mantêm a ilusão de sermos capazes de ler pensamentos, prever o futuro ou a metereologia. Nossos beijos e abraços são tão poderosos! Capazes de fazer passar todas as dores, curar todos os males e aplacar todos os medos e aflições.

Mas aí, de repente, eles crescem...muito mais do que poderíamos imaginar, e muito mais rápido do que gostaríamos. Passam a prescindir da nossa presença, da nossa opinião e da nossa companhia. Num dia correm pra nossa cama com medo de algum sonho ruim e no outro, sem que a gente se dê conta, passam a noite sozinhos, “na balada”, passando pra nós a vez de ficar com medo.

E ficamos com medo porque nos damos conta de que não podemos mais protegê-los de tudo, como acreditávamos. Porque percebemos que nosso abraço já não tem mais o poder de antes. Ficamos inseguros porque o tradicional “mamãe está aqui” ou ”papai está aqui” não são mais suficientes. Agora eles raramente querem ouvir nossa opinião ou resposta para alguma pergunta, a menos que seja, é claro, para nos dizer o quanto estamos equivocados.

A adolescência dos filhos é, portanto, um enorme tombo narcísico para nós, os pais. Um soco na nossa prepotência. Passamos a nos sentir desimportantes, desnecessários e até mesmo descartados. E se por vezes ficamos completamente perdidos e desorientados é, principalmente, porque teimamos em admitir que eles estão apenas traçando seu próprio caminho e para isso, precisam mesmo manter uma certa distância de nós.

Seguramos os bebês no colo. Mantemos as crianças de mãos dadas. Mas os adolescentes já não querem mais andar de mãos dadas conosco, nem metaforicamente falando. Então nos resta apenas caminhar com eles mantendo uma certa distância, torcer para que as coisas se encaminhem da melhor maneira possível e esperar de braços abertos caso precisem de nós mais uma vez - e é certo que vão precisar.

Outra coisa que torna espinhosa a vida de pais de adolescentes é que eles nos mostram, e com certo gozo, onde fracassamos. E alguns dos nossos fracassos pesam muito porque percebemos que o amor que temos por nossos filhos justificam alguns erros, mas não todos. Mas não se preocupe, também educamos com nossos fracassos. Uma geração mais nova é sempre suficientemente inteligente para aprender com os erros da geração anterior. A evolução das espécies tem acontecido desta maneira há milhares e milhares de anos, apesar de, às vezes, duvidarmos desta premissa quando se trata da raça humana.

Eu já tinha perdido o hábito de rezar, mas, ultimamente, tenho apelado para este recurso a fim de não entrar em pânico. Tenho adquirido serenidade para compreender que o que posso fazer agora é dizer com toda a minha alma: “Oxalá meus filhos façam boas escolhas e sejam felizes com as escolhas que fizerem!” Sim, porque cada vez mais percebo que o que eles poderiam aprender comigo, já aprenderam. As virtudes e os valores que eu poderia passar para eles, já foram passadas. E que ninguém tenha dúvidas, foram passadas muito mais pelo que fui do que pelo que eu disse. Portanto, quem esperou seu filho chegar na adolescência para se aproximar dele o suficiente para educá-lo, sinto muito...o jeito agora é redobrar as orações. E para os que ainda têm crianças, não percam tempo, elas crescem muito, muito rápido.