terça-feira, 8 de agosto de 2017

Não me cobre sensatez
Não me cobre coerência
Não sou capaz de encontrar algo do tipo
Nem mesmo em frente ao espelho

Minha sobrancelha direita
Nunca combina com a esquerda
E sempre tenho mais sinais no rosto do que gostaria

Não espere que eu creia na organização do mundo
E nas estátuas erigidas em homenagens póstumas
Se meu corpo é recortado pelo desejo
Quebrado, mal-dito

Não espere de mim complacência
Quando você supõe que eu siga a estabilidade das leis
Se meus hormônios não obedecem a lei alguma
Eu sempre me pareço mais com meu avesso
Mora em mim uma santa e uma louca

Não pense que é fácil lidar com esse caos
Encontrar a maquiagem no tom exato
E um corte de cabelo que funde um mínimo de amor próprio

Não cobre perfeição de quem já nasceu inexata
Não queira que eu mate a estranha que mora em mim
Você não me suportaria sem ela

Rita Almeida

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