por Rita de Cássia A Almeida
Um dia acreditei que o amor estaria mais presente nas coisas grandes e belas, nos grandes feitos e ensinamentos, nos momentos marcantes... Mas não. Aprendi, na dor, que o amor aparece com toda sua força é nos minúsculos detalhes, nas minúcias. O amor se encrusta é nos interstícios, nas pequenas fendas e frestas do cotidiano, lá onde poucos vão enxergar e perceber.
Meu pai se foi e eu sinto seu amor por toda parte, mas este amor se torna ainda mais forte nos pequeninos detalhes, lá onde eu jamais pensava que ele seria fundamental: num certo jeito de segurar o controle da TV e na mania de cutucar o dedo do pé assistindo futebol (que eu assimilei dele), no alpiste espalhado pelo chão, ao ouvir alguém assoviando uma conversa com um passarinho ou contando uma piada, no giro de um casal dançando, no desenho do pica-pau... São tantos detalhes...
Entendi também que o conceito de infinito para o amor se difere do infinito do Universo ou do horizonte. O infinito do amor é pra dentro. É puro emaranhado de lembranças e marcas tão fortes, tão misturadas com o aquilo que somos, que nem mesmo sabemos mais a diferença entre o que é nosso e o que é do outro que amamos... E isso sequer importa.
Aprendi, mais uma vez, que a infiniteza (infinidade + beleza) do amor é o único laço que nos salva do desespero e do vazio. Sendo assim, morrer não é deixar de ser, morrer é ser de outro modo. Morrer é ser junto e a partir dos outros com os quais se compartilhou a vida e os afetos. Morrer é o fim de uma história, mas é o início de outra que contém a primeira. Então a morte é fim e começo.
Acreditava que a morte era ausência e separação, mas hoje a morte me parece mais com presença e reparação. Ninguém pode ficar tão presente quanto aquele a quem amamos, após sua morte. E algumas reparações só são possíveis de se fazer à posteriori.
Enfim, o fato é que a morte não é mesmo capaz de matar o amor. Então, quando se ama, o outro nome para a morte não pode ser perda, dor ou desespero. Quando se ama, o outro nome para a morte só pode ser saudade.
Lindas palavras, de uma sensibilidade gigante, mas leve. "Morrer não é deixar de ser, morrer é ser de outro modo". É assim que sinto e vejo esse fenômeno tão temido que é a morte. Parabéns pelo blog, acompanho sempre que posso. Bjs!
ResponderExcluirobrigada Livia
ResponderExcluir