terça-feira, 5 de maio de 2009

A família é a vilã?

Por: Rita de Cássia de A Almeida


Dias atrás uma revista de circulação nacional publicou uma matéria intitulada: A família é a vilã. Tal matéria tratava de discutir o tema abordado em uma novela que, segundo a revista, deixa a entender que os males ou desacertos dos filhos são resultantes da educação oferecida por seus pais. Esse é um assunto delicado, sendo fácil cair em conclusões extremadas e equivocadas. Num extremo toma-se os pais como únicos e exclusivos responsáveis pelos atos de seus filhos, num outro, entende-se que os filhos escolhem caminhos que dizem muito pouco da forma como foram educados por seus pais. A pressa em demonizar a família, no entanto, é tão equivocada quanto a pressa em absolvê-la.
É fato que existem relações familiares notoriamente desastrosas o que, muito provavelmente, não se dará sem conseqüências igualmente desastrosas, no entanto, não se pode afirmar com certeza que essa ou aquela atitude dos pais provocará esse ou aquele comportamento dos filhos. Também é bom que se saiba que nenhuma relação familiar acontece sem alguma espécie de trauma ou desencontro. Sendo assim, não existe uma maneira perfeita de educar os filhos, ou seja, isenta de traumas e, sobretudo, não existem manuais. Uma coisa, entretanto, é fundamental: criar filhos incorre numa grande responsabilidade, o que não é o mesmo que oferecer um óvulo, um espermatozóide ou um útero para gerá-los.
Para assumir a tarefa de educar um filho é necessário ter as qualidades de um bom afinador de pianos. Ele precisa amar o instrumento e a música; além disso, precisa de tempo, dedicação e paciência; precisa de ouvidos atentos e sensíveis e, também, saber que não existem dois pianos iguais. Ou seja, educar uma criança demanda muita, muita dedicação. Dedicação para amá-la, para cuidar dela, para repreendê-la, para observá-la, para escutá-la e para orientá-la, e esta função os pais não podem delegar a ninguém, nem para a escola, nem para as instituições religiosas, nem para os livros, nem para os amigos, ainda que estas e outras instâncias possam também participar do processo educativo.
Mas não podemos esquecer que apesar de toda nossa dedicação e cuidado nossos filhos farão suas escolhas, muitas delas geradoras de conflitos, desarranjos e sofrimentos. Nesse momento é muito comum que os pais batam no peito e digam: “minha culpa, minha máxima culpa”. Diante dessa situação, no entanto, é necessário que os pais tenham sensibilidade para entender que o que eles vêem como fracasso num primeiro momento, na verdade pode lhes servir como uma espécie de bússola: para orientá-los, para fazê-los reconsiderar seu modo de educar, suas prioridades, seus projetos de vida; filhos são um verdadeiro convite a mudanças. Mas, infelizmente, nem todos os pais percebem e aceitam esse convite e continuam a perpetuar-se em suas certezas e convicções. Uma coisa é certa: as escolhas dos nossos filhos dizem respeito sim, às nossas escolhas como pais, não por culpa, mas por responsabilidade.

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