quarta-feira, 30 de abril de 2014
Enquanto isso, na República das Bananas, a militância, mais uma vez, vira implicância.
Rita de Cássia de Araújo Almeida
#SomosTodosMacacos
Daniel Alves, jogador de futebol do Barcelona e da Seleção Brasileira, se tornou o personagem da semana, ao comer a banana que lhe foi atirada num campo da Europa. Atitude, aliás, sensacional, na minha opinião; inusitada, criativa, bem humorada e o que é mais importante, chamou a atenção do mundo todo sobre essa mazela que ainda corrói nosso mundo: o racismo.
Existem muitas maneiras de se combater o preconceito. Uma delas é pela via das leis, fundamental para criminalizar os excessos e punir quem se excede. Entretanto, existe outra maneira bastante interessante, muito bem exemplificada pela atitude de Dani Alves, que pode (e deve) acontecer longe do tapete dos tribunais, que é a que desqualifica, desconstrói e desmonta o ato preconceituoso. Ao comer a banana, Daniel ridiculariza e menospreza seu algoz. E ao invés de se comportar como mera vítima de uma atitude racista, se coloca como protagonista de um ato potente, que rejeita a humilhação dirigida a ele e devolve-a para o lado de lá.
Imediatamente ao ato de Daniel Alves surge a campanha virtual #WeAreAllMonkeys, e a versão nacional #SomosTodosMacacos, com a multiplicação de “selfies” de pessoas comendo bananas. E com a mesma rapidez que a campanha se alastrou, surgiu aqui, na República das Bananas, uma contracorrente criticando-a; por reafirmar o preconceito, porque o Luciano Huck se aproveitou dela para vender camisa (não sei se essa informação é verdadeira) ou porque a presidente Dilma aderiu e, por isso, não tratou o episódio como crime, tal como deveria.
Olha! Falta de senso de humor tem limite! Tudo bem, eu também fiquei com nojinho da campanha quando vi o Reinaldo Azevedo comendo uma banana, mas #pelamordedeus, concluir que o movimento criado a partir do ato de Daniel Alves e seguido por Neymar foi ruim, por que tem gente que eu não gosto que aderiu a ela? Tenha a santa paciência!
Então tem alguém lucrando com a macacada comendo bananas? Que novidade! Tem gente que lucra com a miséria alheia, com a burrice alheia, com a desgraça alheia, por que afinal de contas, num mundo capitalista e mercantilista como o nosso, alguém não iria lucrar com um ato inusitado e sagaz como o do jogador? Mais uma vez temos que admitir, o lado de lá teve inteligência, burro é o lado de cá que simplesmente desmerece e esvazia a campanha, perdendo a oportunidade de aproveita-la para enfrentar o tema do racismo, dentro e fora dos estádios.
É nessa hora que a militância (de qualquer espécie) fica chata, e vira implicância, porque não agrega, não soma, não reúne, fica só encontrando os defeitos e os detalhes para ficar do contra (há quem acredite que militar em uma causa é ficar sempre “do contra” e evitar “modinhas”). Que mal há numa modinha que agrega multidões se ela se presta a por em discussão um tema tão importante? Eu, definitivamente, não entendo...
Também fica chato quando aproveitam tudo para uso político partidário. Li por aí muitas críticas à nossa presidente por ela ter entrado na campanha via twitter, disseram que ela deveria tratar o racismo como crime, e não o fez quando simplesmente aderiu ao #SomosTodosMacacos. Obviamente que racismo é crime, aqui como em muitos outros países e deve ser tratado como tal, mas a judicialização não pode ser considerada a única via possível para combater esse e outros tipos de preconceito. A judicialização excessiva, da vida e das nossas relações, se sobrepõe ao laço e ao diálogo, o que sempre empobrece e esgarça o tecido social, já tão fragilizado. Não seria melhor guardar os tribunais para os casos de gente amarrando preto no poste e paras emissoras de TV e jornalistas que incentivam essa atitude repulsiva?
Já o time do #nãovaitercopa suspeita que a atitude de Daniel Alves seja um golpe publicitário para salvar a Copa no Brasil... Teoria da conspiração também tem limite!
Para os que se queixam que usar o termo macaco é reafirmar o preconceito eu peço que aprendam com o movimento feminista atual, com a Marcha das Vadias. Vadia sempre foi um termo usado para desqualificar a mulher, o mesmo que puta. O que a Marcha das Vadias faz é se apropriar deste termo pejorativo e dar a ele um outro sentido, que liberta, que potencializa, que retira a mulher do lugar subjugado, de vítima. #SomosTodasVadias não quer transformar todas as mulheres em putas, vadias, mas dizer que não há problema em ser vadia, especialmente, quando ser vadia é aquilo que eu digo que é, e não aquilo que você julga ou define que é. O Orgulho Gay, o Orgulho Louco, também são formas criativas e interessantes de lidar com o preconceito, e seguem nessa mesma linha, de retirar o peso do significante pejorativo que uma palavra carrega. Há pouco tempo chamar alguém de negro, por exemplo, era considerada uma ofensa, mas, os movimentos de valorização da cultura negra, felizmente conseguiram reatar o laço com essa palavra tão forte, bela e cheia de significados.
Será tão difícil entender que a apropriação do significante macaco, nesse caso, poderá ser uma ferramenta importante para combatermos o racismo? Não poderíamos entrar numa “vibe” darwinista (onde foi que eu ouvi isso?) e resgatar uma ancestralidade comum que nos une, fazendo um contraponto à atitude racista que busca exacerbar nossas diferenças?
Vou dar outro exemplo de quando a militância vira implicância. Tudo bem, eu também detesto as músicas do Alexandre Pires, acho o cúmulo da breguice cantar pagode de terno e achei ridículo quando ele chorou diante do Presidente Bush, mas faça-me o favor, investigar se o clipe da música Kong é racista, porque tem um monte de macacos dançando é pura chatice, implicância. É procurar pelo em ovo.
Há os que ainda vão dizer que minha opinião não tem validade porque sou branca. É fato que minha cor me impede de vivenciar o racismo na dureza da carne e, por isso, não tenho autoridade nenhuma para falar em nome dos negros, sobre os negros ou para os negros, quando o assunto é racismo. No entanto, posso produzir um discurso para estar com os negros, ao lado deles nessa luta contra a humilhação e a violência imputadas pelo racismo. Assim como posso estar com os Guarani Kaiwoá - #SomosTodosGuaraniKaiwoá - exilados de sua própria terra, com as Cláudias - #SomosTodosClaudia - e com os Amarildos - #SomosTodosAmarildo - os massacrados pela violência policial nas periferias das nossas cidades.
Duvido de qualquer movimento político, social ou militância que não seja capaz de fazer laço. E, para tal, duas características são fundamentais: apelo estético e senso de humor. Acredito que toda luta também precisa ter beleza e leveza. Quem está brigando contra o #SomosTodosMacacos não entendeu a beleza, a leveza e a dimensão da sua potência para colocar o racismo na pauta mundial. O futebol é o esporte mais popular do mundo, possivelmente o mais amado, estamos no ano da Copa do Mundo e o episódio inusitado, amplamente comentado na mídia e nas redes sociais, acontece dentro de um campo de futebol, tendo como protagonista um dos maiores jogadores da atualidade... Precisa desenhar?
É lamentável que alguns precisem retirar os holofortes deste ato tão incrivelmente vigoroso, bonito e bem humorado de Daniel Alves a fim de girá-los para si mesmo. E assim, o que poderia ser uma discussão global de como extinguir ou pelo menos reduzir os efeitos nocivos do racismo, dentro e fora dos estádios, se limita ao exercício mesquinho de decidir quem é macaco, quem não é macaco e quem é banana.
Nessas horas, só me resta invocar o mestre Raulzito: “Pare o mundo que eu quero descer!”.
domingo, 20 de abril de 2014
Dos Jardins que meu pai deixou
por: Rita de Cássia A. Almeida
Meu pai gostava de contar histórias, mas também protagonizou muitas delas. Quem conviveu com ele entende o que vou dizer agora. Muito mais do que um homem, meu pai foi um personagem. E cada vez mais me convenço que ele se dedicava muito a esse ofício: de inventar personagens para fazer uma história acontecer, mesmo a mais singela delas. Quem dera tivéssemos a sabedoria de entender que a vida é simplesmente isso!
Possivelmente essa não foi a última história que o “Seu” Messias protagonizou, mas é a última que ficou comigo e que, afinal, me arrastou para seu enredo. Pouco mais de um mês depois da morte dele, por amor, fui capaz de criar um personagem para continuar essa história que ele tinha começado.
Há cerca de um ano (talvez mais) abriram uma nova padaria na região central do nosso bairro. Uma padaria cuidadosamente arquitetada e decorada com estilo rústico de interior mineiro. Belíssima! Com destaque para dois vasos com plantas que ficavam na frente do estabelecimento, contornando o balcão de madeira de demolição onde se instalava o caixa. Mas as duas plantas que surgiram verdes e frondosas na inauguração, logo perderam o viço, e dia após dia foram amarelando e secando, notadamente por falta de cuidado. Eu que passava em frente a tal padaria quase todos os dias, observava, com pesar, a morte lenta daquelas duas folhagens e me incomodei, silenciosamente, com aquela contradição: uma padaria tão linda emoldurada por duas plantas mortas.
Um dia, fazendo o mesmo trajeto diário, observei que tinham trocado as plantas do vaso por espécies mais resistentes à falta de cuidados: sabiamente – pensei eu.
Quase sempre cruzava com meu pai na avenida onde fica a tal padaria. Eu, indo para o trabalho e ele, voltando da sua caminhada matinal. Numa dessas vezes observei que ele aguou os dois vasos de frente a padaria e seguiu seu caminho. Curiosa, perguntei a ele, dias depois, porque estava molhando aquelas plantas e ele, então, me contou essa história.
Me disse que passava todos os dias ali em frente e assim como eu, assistiu a morte lenta e triste das plantas colocadas na decoração original do estabelecimento. Um dia, cansado do incômodo e do próprio silêncio, entrou na padaria e pediu pra “falar com o responsável”. Uma jovem senhora se apresentou como “a dona” e ele então revelou a ela o seu incômodo. Disse que aquela era a padaria mais bonita da região, muito bem decorada e que, por isso, não poderia jamais manter dois vasos de planta mortos na entrada. Se ofereceu, então, para trocar as plantas por outras, o que a jovem senhora aceitou com boa vontade e simpatia. E foi assim que meu pai arranjou duas novas espécies mais resistentes à falta de cuidados (sabiamente, como eu já havia notado), plantou-as e desde então passou a agua-las. Para não vê-las morrer também – concluiu – optou por cuidar daquelas que plantou.
Era típico do “Seu” Messias esses gestos singelos que produziam laços por onde ele passava. Meu pai tinha o dom de criar histórias e cativar pessoas.
Entretanto, ele partiu há dois meses. Eu, na minha rotina diária, continuo passando em frente à padaria e tendo a certeza que aquelas plantinhas só estavam sobrevivendo por causa dos cuidados dele. Enfim, para não vê-las sucumbir, decidi me vestir de um personagem e continuar essa história. Há cerca de um mês entrei na padaria e me identifiquei, disse que meu pai - o que plantou e aguava aquelas plantas - tinha morrido, e que, agora, elas precisavam de alguém que cuidasse delas. Percebi, portanto que meu apelo não surtiu efeito, por isso decidi, eu mesma, manter a rotina do meu pai. Pelo menos duas vezes por semana interrompo meu percurso e molho aqueles vasos.
Suponho que a missão dos pais seja essa de deixar alguns jardins plantados para que os filhos se incumbam de cuidar. Uma ilusão boba, mas necessária, de imortalidade. E suponho que a angustia dos filhos seja a de decidir se vão ou não cuidar dos jardins que lhes foram deixados por herança. Alguns jardins herdados se tornam um peso para os filhos, outros uma missão de vida e outros uma honra. Bons pais são aqueles que deixam jardins que mereçam ser cuidados com honra e felizes dos filhos que escolhem cuidar apenas da herança que os honra.
Desejaria que meu pai soubesse que tem sido uma honra cuidar do jardim que ele deixou.
Meu pai gostava de contar histórias, mas também protagonizou muitas delas. Quem conviveu com ele entende o que vou dizer agora. Muito mais do que um homem, meu pai foi um personagem. E cada vez mais me convenço que ele se dedicava muito a esse ofício: de inventar personagens para fazer uma história acontecer, mesmo a mais singela delas. Quem dera tivéssemos a sabedoria de entender que a vida é simplesmente isso!
Possivelmente essa não foi a última história que o “Seu” Messias protagonizou, mas é a última que ficou comigo e que, afinal, me arrastou para seu enredo. Pouco mais de um mês depois da morte dele, por amor, fui capaz de criar um personagem para continuar essa história que ele tinha começado.
Há cerca de um ano (talvez mais) abriram uma nova padaria na região central do nosso bairro. Uma padaria cuidadosamente arquitetada e decorada com estilo rústico de interior mineiro. Belíssima! Com destaque para dois vasos com plantas que ficavam na frente do estabelecimento, contornando o balcão de madeira de demolição onde se instalava o caixa. Mas as duas plantas que surgiram verdes e frondosas na inauguração, logo perderam o viço, e dia após dia foram amarelando e secando, notadamente por falta de cuidado. Eu que passava em frente a tal padaria quase todos os dias, observava, com pesar, a morte lenta daquelas duas folhagens e me incomodei, silenciosamente, com aquela contradição: uma padaria tão linda emoldurada por duas plantas mortas.
Um dia, fazendo o mesmo trajeto diário, observei que tinham trocado as plantas do vaso por espécies mais resistentes à falta de cuidados: sabiamente – pensei eu.
Quase sempre cruzava com meu pai na avenida onde fica a tal padaria. Eu, indo para o trabalho e ele, voltando da sua caminhada matinal. Numa dessas vezes observei que ele aguou os dois vasos de frente a padaria e seguiu seu caminho. Curiosa, perguntei a ele, dias depois, porque estava molhando aquelas plantas e ele, então, me contou essa história.
Me disse que passava todos os dias ali em frente e assim como eu, assistiu a morte lenta e triste das plantas colocadas na decoração original do estabelecimento. Um dia, cansado do incômodo e do próprio silêncio, entrou na padaria e pediu pra “falar com o responsável”. Uma jovem senhora se apresentou como “a dona” e ele então revelou a ela o seu incômodo. Disse que aquela era a padaria mais bonita da região, muito bem decorada e que, por isso, não poderia jamais manter dois vasos de planta mortos na entrada. Se ofereceu, então, para trocar as plantas por outras, o que a jovem senhora aceitou com boa vontade e simpatia. E foi assim que meu pai arranjou duas novas espécies mais resistentes à falta de cuidados (sabiamente, como eu já havia notado), plantou-as e desde então passou a agua-las. Para não vê-las morrer também – concluiu – optou por cuidar daquelas que plantou.
Era típico do “Seu” Messias esses gestos singelos que produziam laços por onde ele passava. Meu pai tinha o dom de criar histórias e cativar pessoas.
Entretanto, ele partiu há dois meses. Eu, na minha rotina diária, continuo passando em frente à padaria e tendo a certeza que aquelas plantinhas só estavam sobrevivendo por causa dos cuidados dele. Enfim, para não vê-las sucumbir, decidi me vestir de um personagem e continuar essa história. Há cerca de um mês entrei na padaria e me identifiquei, disse que meu pai - o que plantou e aguava aquelas plantas - tinha morrido, e que, agora, elas precisavam de alguém que cuidasse delas. Percebi, portanto que meu apelo não surtiu efeito, por isso decidi, eu mesma, manter a rotina do meu pai. Pelo menos duas vezes por semana interrompo meu percurso e molho aqueles vasos.
Suponho que a missão dos pais seja essa de deixar alguns jardins plantados para que os filhos se incumbam de cuidar. Uma ilusão boba, mas necessária, de imortalidade. E suponho que a angustia dos filhos seja a de decidir se vão ou não cuidar dos jardins que lhes foram deixados por herança. Alguns jardins herdados se tornam um peso para os filhos, outros uma missão de vida e outros uma honra. Bons pais são aqueles que deixam jardins que mereçam ser cuidados com honra e felizes dos filhos que escolhem cuidar apenas da herança que os honra.
Desejaria que meu pai soubesse que tem sido uma honra cuidar do jardim que ele deixou.
sábado, 29 de março de 2014
Estupro não é sexo!
por: Rita de Cássia de A Almeida
psicanalista
Esta semana o Ipea divulgou o estudo: “Tolerância social à violência contra as mulheres”. Os resultados são lamentáveis: 58,5% dos entrevistados concordam totalmente ou parcialmente com a frase "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Quando a frase é: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", o resultado ainda é mais assustador: 65,1% dos pesquisados concordam inteiramente ou parcialmente com tal afirmativa. A pesquisa ouviu 3.810 pessoas entre maio e junho do ano passado em 212 cidades do Brasil e (pasmem!) do total de entrevistados, 66,5% eram mulheres.
Coincidentemente, na ocasião da divulgação da pesquisa, estava lendo o livro, Longe da Árvore, de Andrew Solomon, exatamente no capítulo do livro dedicado ao tema do estupro. O autor estudou, especificamente, casos de estupros que resultaram em gravidez. Entrevistou mulheres estupradas, filhos gerados de estupro e familiares das mulheres vítimas. O estudo de Solomon foi feito basicamente nos EUA, mas ele colheu dados de outros países também.
Fica evidente no estudo de Solomon que a situação das sociedades que ele pesquisou não está muito diferente da nossa: a mulher é sempre culpabilizada pelo estupro. Solomon também aponta que a forma como a mulher se veste ou se comporta são apenas meios de escamotear a seguinte verdade: a grande maioria acredita que o que causa o estupro é a mulher, é ela quem provoca o desejo sexual no homem, independente do que ela faça ou de como ela seja.
O estupro tem raízes profundas na cultura machista que domina a maior parte das sociedades, isso é fato. O estupro é, sobretudo, um ato de dominação. No entanto, o fato de se conceber o estupro como um tipo de intercurso sexual, abre sempre essa dúvida sobre o desejo e a implicação da vítima: Será que ela realmente não queria? Será que ela não estava pedindo?
Talvez uma saída para esse problema seja destituir o estupro de seu conteúdo sexual. Partindo dessa premissa, o estupro não pode ser considerado ato sexual violento ou forçado, porque nem mesmo é um ato sexual. O ato sexual só pode existir com o consenso das partes implicadas. Sendo assim, estupro não é sexo, não é sexual, não é sexualidade. Estupro é violência pura e simples, e da pior espécie, porque é violência física, moral, emocional, espiritual e psicológica. A mais simbólica das violências. A mais impregnada de sentidos.
O estudo de Solomon também se aproxima do nosso quando conclui que as próprias mulheres se culpam e culpam as outras mulheres pelo estupro. Talvez exatamente porque, ao pensarmos no estupro, ainda entendamos o mesmo como uma modalidade de ato sexual. Ao longo da historia das sociedades, a sedução tem sido uma das armas mais eficientes e importantes do universo feminino, especialmente quando entramos no terreno da sexualidade. Acredito assim que, nós mulheres, ao interpretarmos o estupro com ato sexual, podemos cair na armadilha de acreditar que possamos ter contribuído com ele através de algum tipo de sinal ou aceno sedutor.
Apesar do resultado da pesquisa do Ipea ser lamentável, traz a tona um tema importante para ser discutido na sociedade, especialmente por nós mulheres. Por que se por um lado não podemos mais ser culpabilizadas pelo estupro, também não podemos nos tornar vítimas passivas desta violência tão abominável. O estupro não é nossa culpa, mas é nossa responsabilidade por fim a essa mazela. Um bom começo seria conversar com nossas filhas sobre o tema. Eu começaria dizendo o seguinte: ato sexual, sexo ou sexualidade, implica numa entrega íntima que só pode acontecer com consentimento pleno das partes implicadas, qualquer coisa, além disso, não é sexo, é violência, a mais vil das violências e deve ser tratada como tal.
psicanalista
Esta semana o Ipea divulgou o estudo: “Tolerância social à violência contra as mulheres”. Os resultados são lamentáveis: 58,5% dos entrevistados concordam totalmente ou parcialmente com a frase "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Quando a frase é: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", o resultado ainda é mais assustador: 65,1% dos pesquisados concordam inteiramente ou parcialmente com tal afirmativa. A pesquisa ouviu 3.810 pessoas entre maio e junho do ano passado em 212 cidades do Brasil e (pasmem!) do total de entrevistados, 66,5% eram mulheres.
Coincidentemente, na ocasião da divulgação da pesquisa, estava lendo o livro, Longe da Árvore, de Andrew Solomon, exatamente no capítulo do livro dedicado ao tema do estupro. O autor estudou, especificamente, casos de estupros que resultaram em gravidez. Entrevistou mulheres estupradas, filhos gerados de estupro e familiares das mulheres vítimas. O estudo de Solomon foi feito basicamente nos EUA, mas ele colheu dados de outros países também.
Fica evidente no estudo de Solomon que a situação das sociedades que ele pesquisou não está muito diferente da nossa: a mulher é sempre culpabilizada pelo estupro. Solomon também aponta que a forma como a mulher se veste ou se comporta são apenas meios de escamotear a seguinte verdade: a grande maioria acredita que o que causa o estupro é a mulher, é ela quem provoca o desejo sexual no homem, independente do que ela faça ou de como ela seja.
O estupro tem raízes profundas na cultura machista que domina a maior parte das sociedades, isso é fato. O estupro é, sobretudo, um ato de dominação. No entanto, o fato de se conceber o estupro como um tipo de intercurso sexual, abre sempre essa dúvida sobre o desejo e a implicação da vítima: Será que ela realmente não queria? Será que ela não estava pedindo?
Talvez uma saída para esse problema seja destituir o estupro de seu conteúdo sexual. Partindo dessa premissa, o estupro não pode ser considerado ato sexual violento ou forçado, porque nem mesmo é um ato sexual. O ato sexual só pode existir com o consenso das partes implicadas. Sendo assim, estupro não é sexo, não é sexual, não é sexualidade. Estupro é violência pura e simples, e da pior espécie, porque é violência física, moral, emocional, espiritual e psicológica. A mais simbólica das violências. A mais impregnada de sentidos.
O estudo de Solomon também se aproxima do nosso quando conclui que as próprias mulheres se culpam e culpam as outras mulheres pelo estupro. Talvez exatamente porque, ao pensarmos no estupro, ainda entendamos o mesmo como uma modalidade de ato sexual. Ao longo da historia das sociedades, a sedução tem sido uma das armas mais eficientes e importantes do universo feminino, especialmente quando entramos no terreno da sexualidade. Acredito assim que, nós mulheres, ao interpretarmos o estupro com ato sexual, podemos cair na armadilha de acreditar que possamos ter contribuído com ele através de algum tipo de sinal ou aceno sedutor.
Apesar do resultado da pesquisa do Ipea ser lamentável, traz a tona um tema importante para ser discutido na sociedade, especialmente por nós mulheres. Por que se por um lado não podemos mais ser culpabilizadas pelo estupro, também não podemos nos tornar vítimas passivas desta violência tão abominável. O estupro não é nossa culpa, mas é nossa responsabilidade por fim a essa mazela. Um bom começo seria conversar com nossas filhas sobre o tema. Eu começaria dizendo o seguinte: ato sexual, sexo ou sexualidade, implica numa entrega íntima que só pode acontecer com consentimento pleno das partes implicadas, qualquer coisa, além disso, não é sexo, é violência, a mais vil das violências e deve ser tratada como tal.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Saudade
por Rita de Cássia A Almeida
Um dia acreditei que o amor estaria mais presente nas coisas grandes e belas, nos grandes feitos e ensinamentos, nos momentos marcantes... Mas não. Aprendi, na dor, que o amor aparece com toda sua força é nos minúsculos detalhes, nas minúcias. O amor se encrusta é nos interstícios, nas pequenas fendas e frestas do cotidiano, lá onde poucos vão enxergar e perceber.
Meu pai se foi e eu sinto seu amor por toda parte, mas este amor se torna ainda mais forte nos pequeninos detalhes, lá onde eu jamais pensava que ele seria fundamental: num certo jeito de segurar o controle da TV e na mania de cutucar o dedo do pé assistindo futebol (que eu assimilei dele), no alpiste espalhado pelo chão, ao ouvir alguém assoviando uma conversa com um passarinho ou contando uma piada, no giro de um casal dançando, no desenho do pica-pau... São tantos detalhes...
Entendi também que o conceito de infinito para o amor se difere do infinito do Universo ou do horizonte. O infinito do amor é pra dentro. É puro emaranhado de lembranças e marcas tão fortes, tão misturadas com o aquilo que somos, que nem mesmo sabemos mais a diferença entre o que é nosso e o que é do outro que amamos... E isso sequer importa.
Aprendi, mais uma vez, que a infiniteza (infinidade + beleza) do amor é o único laço que nos salva do desespero e do vazio. Sendo assim, morrer não é deixar de ser, morrer é ser de outro modo. Morrer é ser junto e a partir dos outros com os quais se compartilhou a vida e os afetos. Morrer é o fim de uma história, mas é o início de outra que contém a primeira. Então a morte é fim e começo.
Acreditava que a morte era ausência e separação, mas hoje a morte me parece mais com presença e reparação. Ninguém pode ficar tão presente quanto aquele a quem amamos, após sua morte. E algumas reparações só são possíveis de se fazer à posteriori.
Enfim, o fato é que a morte não é mesmo capaz de matar o amor. Então, quando se ama, o outro nome para a morte não pode ser perda, dor ou desespero. Quando se ama, o outro nome para a morte só pode ser saudade.
Um dia acreditei que o amor estaria mais presente nas coisas grandes e belas, nos grandes feitos e ensinamentos, nos momentos marcantes... Mas não. Aprendi, na dor, que o amor aparece com toda sua força é nos minúsculos detalhes, nas minúcias. O amor se encrusta é nos interstícios, nas pequenas fendas e frestas do cotidiano, lá onde poucos vão enxergar e perceber.
Meu pai se foi e eu sinto seu amor por toda parte, mas este amor se torna ainda mais forte nos pequeninos detalhes, lá onde eu jamais pensava que ele seria fundamental: num certo jeito de segurar o controle da TV e na mania de cutucar o dedo do pé assistindo futebol (que eu assimilei dele), no alpiste espalhado pelo chão, ao ouvir alguém assoviando uma conversa com um passarinho ou contando uma piada, no giro de um casal dançando, no desenho do pica-pau... São tantos detalhes...
Entendi também que o conceito de infinito para o amor se difere do infinito do Universo ou do horizonte. O infinito do amor é pra dentro. É puro emaranhado de lembranças e marcas tão fortes, tão misturadas com o aquilo que somos, que nem mesmo sabemos mais a diferença entre o que é nosso e o que é do outro que amamos... E isso sequer importa.
Aprendi, mais uma vez, que a infiniteza (infinidade + beleza) do amor é o único laço que nos salva do desespero e do vazio. Sendo assim, morrer não é deixar de ser, morrer é ser de outro modo. Morrer é ser junto e a partir dos outros com os quais se compartilhou a vida e os afetos. Morrer é o fim de uma história, mas é o início de outra que contém a primeira. Então a morte é fim e começo.
Acreditava que a morte era ausência e separação, mas hoje a morte me parece mais com presença e reparação. Ninguém pode ficar tão presente quanto aquele a quem amamos, após sua morte. E algumas reparações só são possíveis de se fazer à posteriori.
Enfim, o fato é que a morte não é mesmo capaz de matar o amor. Então, quando se ama, o outro nome para a morte não pode ser perda, dor ou desespero. Quando se ama, o outro nome para a morte só pode ser saudade.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Adeus ao pai
por Rita de Cássia de Araújo Almeida
filha de Missias Braz de Almeida
Meu pai faleceu esta semana e deixou em nós um vazio inenarrável.
Quem o conheceu sabia o cara incrível que ele era. De uma sabedoria, muitas vezes, cortante, apesar da pouquíssima instrução. E no seu ato final, quando as cortinas se fecharam eu tive mais clara ainda a dimensão de tal sabedoria. Pois só uma pessoa muito sábia é capaz de construir seu próprio epitáfio e tem serenidade para transmiti-la a outra pessoa, meses antes da sua morte, ainda que esta morte, dada a sua saúde e vitalidade, parecesse estar ainda muito distante.
Meses atrás meu pai me chamou reservadamente e me disse. “Minha filha, quando eu morrer, quero que você diga pras pessoas presentes no meu enterro que eu quero todas elas alegres e sorrindo, porque eu fui um homem muito alegre. Quero que você diga assim: aqui foi um homem muito alegre que amou muito a vida.”
Meu pai era um exímio contador de piadas e “causos” (como se diz aqui em Minas). Muitos desses “causos” e piadas ele contava repetidamente, mas a gente sempre ria do mesmo jeito, ainda que sabendo o enredo e o final. Ele sempre tinha um trejeito diferente, um personagem diferente, tinha mania de adicionar detalhes que não faziam a menor diferença ao contexto narrado, também sabia com mestria mudar o final da história, quando esquecia a original. Aprendi com meu pai que não importa a história que aconteceu, o que vale mesmo é a história que a gente conta.
Estar com meu pai era a certeza de boas risadas. Mesmo quando tudo parecia desesperador, terrível e trágico, ele sempre se lembrava de nos fazer rir. Sendo assim, no dia da despedida, ao cumprir a nobre missão que ele me deu, dizendo a todos o que ele me pediu para dizer, também fiz questão de contar uma de suas piadas, que é a seguinte:
Um bêbado chega a um velório no qual não conhece ninguém e pergunta a uma mulher que está chorando:
- Morreu de quê? E ela responde:
- Ah! Morreu como um passarinho...
O bêbado parece satisfeito com a resposta e continua mais um tempo velando o morto desconhecido. Logo chega uma pessoa e pergunta ao bêbado:
- Morreu de quê? E o bêbado responde:
- Não sei ao certo... ou foi pedrada ou falta de alpiste.
Meu pai morreu como um passarinho... Não foi pedrada, nem falta de alpiste. Na verdade, ao que parece, alguém abriu a gaiola e ele simplesmente voou, leve e alegre como sempre foi.
Algumas pessoas acreditam que sabedoria é sofisticação, complexidade e excesso, mas ao contrário, sabedoria é simplicidade. Mais sábio é aquele que consegue resumir e apreender toda a complexidade da própria vida em poucas palavras. E meu pai soube fazer isso ao me dizer seu epitáfio. E se eu pedisse a todas as pessoas que conheceram meu pai que o representasse em uma só palavra com certeza todos diriam: ALEGRIA.
Em psicanálise dizemos que o que se alcança num processo de análise é a eliminação da profusão de significantes que nos representa (e que, em geral, não ajudam, só atrapalham) para que nos reste apenas alguns poucos, os significantes que realmente são importantes. Talvez nossa existência seja apenas para isso, para termos tempo de complicar a vida e depois de descomplica-la. Felizes dos que conseguem se livrar dos excessos e resumir sua vida em poucos atos, obras e palavras. Meu pai soube fazer isso com mestria: ALEGRIA foi sua única palavra no final, sua maior obra. E pensando assim, ele só poderia morrer do jeito que morreu, sem doença, sem sofrimento, se preparando para assistir sua neta, minha filha, desfilar no carnaval de nossa cidade.
Meu pai nunca leu Nietzsche, mas sabia muito bem da força e da potência revolucionária e reveladora da alegria. Para usar o termo nietzschiano: meu pai foi pura afirmação da vida. Gostava de rir, fazer os outros rirem e dançar. Nietzsche dizia: “Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!” Meu pai não perdeu um dia sequer e nos disse todas as verdades.
Em seu leito de morte tudo que pude prometer ao meu pai é que enquanto estivéssemos de passagem nessa vida nós continuaríamos a nos reunir para relembrar e recontar suas histórias e rir, rir muito. Ele nos fez rir a vida toda e, com certeza, continuaremos a rir dele depois da sua partida.
Depois de ter dito isso no velório de meu pai, um amigo muito antigo dele me chamou e disse que queria me contar a última piada que meu pai contou para ele. Achei aquilo de uma beleza infinita e só consegui pensar que foi meu pai quem soprou aquela piada em seu ouvido. E mais uma vez pude sorrir em meio as lágrimas.
Obrigada, pai. Você fez por merecer nosso sorriso e nosso aplauso!
filha de Missias Braz de Almeida
Meu pai faleceu esta semana e deixou em nós um vazio inenarrável.
Quem o conheceu sabia o cara incrível que ele era. De uma sabedoria, muitas vezes, cortante, apesar da pouquíssima instrução. E no seu ato final, quando as cortinas se fecharam eu tive mais clara ainda a dimensão de tal sabedoria. Pois só uma pessoa muito sábia é capaz de construir seu próprio epitáfio e tem serenidade para transmiti-la a outra pessoa, meses antes da sua morte, ainda que esta morte, dada a sua saúde e vitalidade, parecesse estar ainda muito distante.
Meses atrás meu pai me chamou reservadamente e me disse. “Minha filha, quando eu morrer, quero que você diga pras pessoas presentes no meu enterro que eu quero todas elas alegres e sorrindo, porque eu fui um homem muito alegre. Quero que você diga assim: aqui foi um homem muito alegre que amou muito a vida.”
Meu pai era um exímio contador de piadas e “causos” (como se diz aqui em Minas). Muitos desses “causos” e piadas ele contava repetidamente, mas a gente sempre ria do mesmo jeito, ainda que sabendo o enredo e o final. Ele sempre tinha um trejeito diferente, um personagem diferente, tinha mania de adicionar detalhes que não faziam a menor diferença ao contexto narrado, também sabia com mestria mudar o final da história, quando esquecia a original. Aprendi com meu pai que não importa a história que aconteceu, o que vale mesmo é a história que a gente conta.
Estar com meu pai era a certeza de boas risadas. Mesmo quando tudo parecia desesperador, terrível e trágico, ele sempre se lembrava de nos fazer rir. Sendo assim, no dia da despedida, ao cumprir a nobre missão que ele me deu, dizendo a todos o que ele me pediu para dizer, também fiz questão de contar uma de suas piadas, que é a seguinte:
Um bêbado chega a um velório no qual não conhece ninguém e pergunta a uma mulher que está chorando:
- Morreu de quê? E ela responde:
- Ah! Morreu como um passarinho...
O bêbado parece satisfeito com a resposta e continua mais um tempo velando o morto desconhecido. Logo chega uma pessoa e pergunta ao bêbado:
- Morreu de quê? E o bêbado responde:
- Não sei ao certo... ou foi pedrada ou falta de alpiste.
Meu pai morreu como um passarinho... Não foi pedrada, nem falta de alpiste. Na verdade, ao que parece, alguém abriu a gaiola e ele simplesmente voou, leve e alegre como sempre foi.
Algumas pessoas acreditam que sabedoria é sofisticação, complexidade e excesso, mas ao contrário, sabedoria é simplicidade. Mais sábio é aquele que consegue resumir e apreender toda a complexidade da própria vida em poucas palavras. E meu pai soube fazer isso ao me dizer seu epitáfio. E se eu pedisse a todas as pessoas que conheceram meu pai que o representasse em uma só palavra com certeza todos diriam: ALEGRIA.
Em psicanálise dizemos que o que se alcança num processo de análise é a eliminação da profusão de significantes que nos representa (e que, em geral, não ajudam, só atrapalham) para que nos reste apenas alguns poucos, os significantes que realmente são importantes. Talvez nossa existência seja apenas para isso, para termos tempo de complicar a vida e depois de descomplica-la. Felizes dos que conseguem se livrar dos excessos e resumir sua vida em poucos atos, obras e palavras. Meu pai soube fazer isso com mestria: ALEGRIA foi sua única palavra no final, sua maior obra. E pensando assim, ele só poderia morrer do jeito que morreu, sem doença, sem sofrimento, se preparando para assistir sua neta, minha filha, desfilar no carnaval de nossa cidade.
Meu pai nunca leu Nietzsche, mas sabia muito bem da força e da potência revolucionária e reveladora da alegria. Para usar o termo nietzschiano: meu pai foi pura afirmação da vida. Gostava de rir, fazer os outros rirem e dançar. Nietzsche dizia: “Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!” Meu pai não perdeu um dia sequer e nos disse todas as verdades.
Em seu leito de morte tudo que pude prometer ao meu pai é que enquanto estivéssemos de passagem nessa vida nós continuaríamos a nos reunir para relembrar e recontar suas histórias e rir, rir muito. Ele nos fez rir a vida toda e, com certeza, continuaremos a rir dele depois da sua partida.
Depois de ter dito isso no velório de meu pai, um amigo muito antigo dele me chamou e disse que queria me contar a última piada que meu pai contou para ele. Achei aquilo de uma beleza infinita e só consegui pensar que foi meu pai quem soprou aquela piada em seu ouvido. E mais uma vez pude sorrir em meio as lágrimas.
Obrigada, pai. Você fez por merecer nosso sorriso e nosso aplauso!
Assinar:
Postagens (Atom)