Não me cobre sensatez
Não me cobre coerência
Não sou capaz de encontrar algo do tipo
Nem mesmo em frente ao espelho
Minha sobrancelha direita
Nunca combina com a esquerda
E sempre tenho mais sinais no rosto do que gostaria
Não espere que eu creia na organização do mundo
E nas estátuas erigidas em homenagens póstumas
Se meu corpo é recortado pelo desejo
Quebrado, mal-dito
Não espere de mim complacência
Quando você supõe que eu siga a estabilidade das leis
Se meus hormônios não obedecem a lei alguma
Eu sempre me pareço mais com meu avesso
Mora em mim uma santa e uma louca
Não pense que é fácil lidar com esse caos
Encontrar a maquiagem no tom exato
E um corte de cabelo que funde um mínimo de amor próprio
Não cobre perfeição de quem já nasceu inexata
Não queira que eu mate a estranha que mora em mim
Você não me suportaria sem ela
Rita Almeida
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