domingo, 27 de julho de 2008

Ética na publicidade

Por: Rita de Cássia de A Almeida

Assisti, estarrecida, à cobertura da imprensa televisiva ao IV Congresso Brasileiro de Publicidade, ocorrido na semana passada. Foi lamentável escutar o posicionamento dos nossos publicitários, figurados dentre os mais competentes e inteligentes do mundo, de que regulamentar a publicidade é afrontar os princípios do Estado Democrático. A mim não conseguiram vender este discurso. Estabelecer regras, não coloca em risco a democracia, como tentaram nos fazer crer os publicitários. É preciso dizer, em alto e bom tom, que o que distingue a democracia de outras formas de governo não é a ausência de regras, mas sim quem as estabelece.
Num Estado Totalitário, por exemplo, uma pessoa ou um grupo de pessoas define as regras às quais os demais deverão se submeter. Num Estado Democrático, as regras continuam a existir, no entanto, é a sociedade, através dos instrumentos democráticos, que define estas regras, ou seja, é o interesse coletivo e não o individual que é levado em questão. Outra particularidade da democracia é que tais regras não são perenes ou imutáveis, podem e devem ser modificadas, de acordo com a época, a situação e os interesses da sociedade.
Se o mercado publicitário brasileiro quer mesmo defender a democracia, que então escute a sociedade, ao invés de defender apenas seus próprios interesses corporativos. Façam uma pesquisa, sei que são muito bons nisso! Perguntem aos pais e mães de família se eles gostariam que seus filhos pudessem ter acesso a qualquer tipo de programa na TV, em qualquer horário, sem nenhuma preocupação com o conteúdo exibido? Perguntem aos que lutam para abandonar o vício do álcool se eles não gostariam que seus entes queridos tivessem a oportunidade de serem mais críticos ao assistirem um “inofensivo” comercial de cerveja? Perguntem aos defensores das causas ambientais o que eles acham das propagandas que nos dizem o tempo todo: consumam, consumam e entupam o planeta com seu lixo, mas sejam felizes agora? Perguntem às entidades de vítimas do fumo se eles não aplaudiram as restrições feitas às propagandas de cigarro? Perguntem aos especialistas em saúde pública o que eles acham das propagandas de remédio que estimulam a auto-medicação? Perguntem aos endividados dos cartões de crédito, se eles não gostariam de terem sido melhor informados sobre os perigos do crédito fácil?
Se os publicitários realmente defendem a democracia, que escutem a sociedade, certamente ela terá razões éticas irrefutáveis para defender certas regras, saudáveis e necessárias a toda e qualquer civilização, sociedade, instituição, profissão e por aí vai... O nosso desejo mais primário e íntimo é viver sem regras, satisfazer aos nossos impulsos e os outros que se danem. Mas como diria o velho Freud (infelizmente denegrido pela má publicidade) o homem só foi capaz de fundar a civilização quando foi capaz de renunciar aos próprios instintos em favor da coletividade. Meu pai diria assim: _ Minha filha, o fato de você poder dizer tudo o que quer, não lhe dá o direito de dizer tudo o que quer.

domingo, 22 de junho de 2008

Dois pesos, duas medidas.

Por: Rita de Cássia A Almeida

Sou profissional liberal e há alguns anos atrás, me inscrevi num processo de seleção para me conveniar a uma instituição de saúde. Dentre as documentações que me foram exigidas constavam: estar em dia com meu Conselho Profissional, com a Receita Federal e com minhas obrigações eleitorais (e se fosse homem, também com meus deveres com a Pátria), certidão negativa nas esferas municipal, estadual e federal e certidão de bons antecedentes, emitida pela delegacia de polícia. Na ocasião, achei normal esta espécie de procedimento, afinal, creio em valores como cumprimento de deveres, legalidade e honestidade. Anos depois, ao tentar comprar um celular, tive uma terrível surpresa: meu nome estava no SPC há vários meses sem que eu soubesse. Depois de me informar no Serviço de Proteção ao Crédito, descobri que minha pendência se tratava de uma conta telefônica que não foi paga por uma inquilina quando, infelizmente, a tal conta ainda estava em meu nome. Ela, a inquilina que já havia saído do imóvel, provavelmente recebia os avisos de cobrança em seu endereço e não me repassava. Não é necessário dizer que o prejuízo foi todo meu, sem contar o constrangimento na hora da compra do celular que afinal precisou ser comprado em nome do meu marido, mas ainda assim pensei: “Descuido meu deixar num apartamento alugado a conta do telefone em meu nome, que isso me sirva de lição”. Hoje, ao me lembrar destas duas situações, fico completamente indignada, sem compreender a dificuldade do TSE em criar uma maneira de impugnar ou pelo menos restringir a candidatura de cidadãos que estejam com a “ficha suja”. Eu, cidadã comum, certamente não conseguiria me conveniar àquela instituição se apresentasse algum tipo de pendência. No caso do SPC, fiquei impedida de comprar a crédito, alugar imóvel, abrir conta bancária, fazer empréstimo, dentre outras restrições, até conseguir sanar a dívida que me foi imputada, com juros e correção. Entretanto, para os homens públicos do nosso país, a história é outra. Se aproveitando da lentidão da justiça e da falta de leis mais rigorosas, sujeitos reiteradamente envolvidos em escândalos de desvio de verbas, corrupção e sonegação, permanecem elegíveis, se mantendo na confortável posição de “lobos cuidando de galinheiros”. Foi isso que, lamentavelmente, aconteceu em nosso município. Bejani que já na sua primeira gestão deu mostras de como faz uso dos votos e da confiança que o povo lhe deposita, sequer deveria ter sido aceito como candidato à prefeitura municipal uma segunda vez. A sociedade brasileira não agüenta mais tanta corrupção. Basta! Alguém, por favor, me faça entender, porque o TSE permite que certos cidadãos, atolados até o pescoço na lama da corrupção, continuem a freqüentar os palanques eleitorais? Até quando será permitido que participem do processo eleitoral, estes criminosos, a meu ver da pior espécie, que usam dinheiro público a seu bel prazer, dando a eles a possibilidade de receberem as chaves do cofre e o poder públicos?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A “novela Ronaldo”

Por: Rita de Cássia de A Almeida


Esta semana os holofotes de desviaram, um pouco, do “caso Isabela” para o “caso Ronaldo/Fenômeno”. A imprensa descobriu que dar um tom novelístico para as matérias rende pontos na guerra da audiência, sendo assim, a “novela Ronaldo”, deve ainda durar alguns dias, até que outra “novela” se instale. Neste mundo de imagens, onde o que importa não é ser ou nem mesmo ter, o que importa é parecer ser e parecer ter, Ronaldo nos escandaliza porque faz cair uma imagem, imagem que tínhamos dele, produzida pela mídia, pela sua posição de garoto propaganda, e por nós mesmos que não cansamos de procurar por heróis. Na era das cirurgias plásticas, do fotoshop, da ojeriza completa à celulite, ao peito caído, às rugas, qualquer espécie de retoque para ficar bem na fita fica aprovado, seja ele qual for. Mas este é o problema das coisas que construímos com imagens, elas se desfazem ao mínimo abalo porque não têm consistência, ou melhor, nem mesmo têm a pretensão de terem consistência. Por isso, rapidamente, a imprensa divulga que Ronaldo corre o risco de perder contratos milionários de publicidade, e o UNICEF tratou rapidamente de veicular que Ronaldo não é seu embaixador, afinal, ninguém quer ser associado a um “sujeito que se envolve com travestis”. Sem contar o quanto de preconceito que esta proposição carrega e sem entrar do mérito do caso, o que me chama a atenção é a rapidez com que uma imagem se desfaz. E vou confessar, não sem uma certa dose de pudor, que sinto certa simpatia por sujeitos feito Ronaldo, e temos muitos outros exemplos de “celebridades” que seguidamente se envolvem em algum “escândalo” porque ousam fazer coisas que não condizem com a imagem que fizeram delas. É claro que Ronaldo não planejou isso conscientemente, ninguém em sã consciência, arrisca a jogar pelo ralo 20.000.000, 00 de dólares (valor que recebe em publicidade por ano) pra “tirar uma” no motel. Mas isso deixa o fato mais interessante, porque nos indica que por mais que se insista em maquiar ou produzir uma imagem de bom moço e herói, o sujeito, aquele de carne e osso, como qualquer mortal, comparece com sua verdade, cheia de estranhezas, incomposturas, deslizes e pecados. Não quero dizer com isso que abomino os bons moços e boas moças, até porque não acredito que ninguém seja totalmente bom ou totalmente mau, o que abomino é esta produção de bons moços e boas moças, belos e belas, regadas a maquiagens, plásticas, retoques e muita, muita hipocrisia, e a cegueira da maioria das pessoas para enxergar estas produções como toscas e medíocres. Eu não tenho acompanhado o “caso Ronaldo”, não sei qual foi o tom das explicações que ele deu sobre o fato, mas minha simpatia por ele aumentaria se soubesse que ele esteja deixando falar o Ronaldo, se esquivando o tanto quanto for possível do Fenômeno. Numa época onde impera a hipocrisia, momentos, ou ainda que relances de autenticidade precisam ser valorizados, pois são uma raridade.