Lima Duarte, 29 de junho e 2012
Este é um dia muito especial para todos nós aqui presentes, especialmente para os que, de alguma maneira, contribuíram para a realização deste sonho. O CAPS de Lima Duarte foi construído a muitas mãos. Participaram de sua construção não apenas aqueles que ergueram essas paredes, que lhe deram forma, textura, luz e colorido. Ele também não é fruto apenas dos seus idealizadores aqui do município de Lima Duarte. Este sonho, aqui materializado, carrega consigo uma história longa, intensa e muito bonita. História de muita luta, engajamento e trabalho árduo. História de homens e mulheres que acreditaram na utopia de um mundo melhor, mais solidário, mais igualitário e menos excludente. Portanto, cada tijolo que aqui foi erguido começou a tomar forma há muito tempo atrás, ainda na década de 70, quando as atrocidades e desumanidades cometidas nos manicômios começaram a ser questionadas e enfrentadas, dando forma a um dos maiores movimentos sociais que o Brasil já conheceu: o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial.
Engana-se quem acredita que esses tijolos são feitos apenas de barro. São tijolos feitos de fé e esperança, mas também com o sofrimento e a agonia daqueles doentes mentais e de suas famílias que não puderam partilhar da felicidade de serem tratados com zelo, carinho, respeito e humanidade. As vigas e estruturas que sustentam esta casa foram feitas com materiais inventados nos idos de 1987, na criação do primeiro CAPS do Brasil. As paredes que contornam esta casa não levam apenas água areia e cimento. Na verdade, o cimento que faz a liga dessas paredes é amor muito amor, amor que une, que aproxima, que agrega, que fortalece e que cria laços. O telhado que protege este CAPS, hoje batizado com o nome do Dr. Luiz Eugênio Godinho Delgado, é feito com a força, o empenho e a dedicação de todos aqueles que como ele, não mediram esforços para que a Saúde Pública do nosso país tivesse êxito. Dedicação como a de Pedro Gabriel (aqui presente) e Paulo Delgado, que tanto fizeram pela Saúde Mental brasileira e que temos a honra e o orgulho de chamarmos de filhos desta terra mineira. As cores que iluminam este que será o novo lar da Saúde Mental da nossa região foram conseguidas a partir de muito trabalho intelectual, tecidos dentro dos próprios serviços de saúde mental e nas várias instituições de ensino e pesquisa espalhados pelo Brasil. Estudos que inventaram novos conceitos, estratégias e metodologias de cuidado e tratamento. E o chão que caminharemos no dia a dia do nosso trabalho como técnico de saúde mental na nossa nova casa é um chão já trilhado por muitos outros técnicos de saúde mental que como nós fizeram dessa causa, a causa de sua vida.
Falta ainda dizer o motivo pelo qual tudo isso foi construído e idealizado. Falta mencionar os que provocaram todo esse movimento e que acabaram por nos possibilitar vivenciar este e tanto outros momentos ímpares. Alguns os chamam de loucos, outros os chamam de doentes mentais, mas na verdade trata-se apenas de homens e mulheres, que assim como todos nós, estão procurando entender esse mundo, ora encantador, ora estranho e ameaçador. Esses homens e mulheres quase sempre acreditam que participam do cotidiano do CAPS para aprender, mas o fato é que nós também aprendemos muito nesse compartilhar. Buscamos por dinheiro, beleza, sabedoria, conforto, poder, fama, prazeres, mas aprendemos com essas pessoas que nada disso tem valor se não tivermos o essencial: amor, afeto e carinho. Aprendemos com eles que sem a força do laço que nos une numa família, numa comunidade, numa rede de amigos, ou em qualquer outra forma de relação coletiva, adoecemos e enlouquecemos todos. Então toda essa obra só foi possível porque decidimos caminhar lado a lado para aprendermos uns com os outros, porque decidimos entender as diferenças como riqueza e não como impedimento para estarmos juntos, porque compreendemos que o mundo sem as loucuras nossas de cada dia ficaria mais pobre e cinza.
Mas esta obra ainda não está pronta, porque ela também carrega o anseio de tudo que ainda temos por fazer no âmbito das políticas de saúde mental, e todo desejo que temos de que o SUS, nosso valioso sistema de saúde público, continue a sustentar o sonho de promover uma saúde que não tenha preço e que não esteja à venda. Trata-se, portanto, de uma obra inacabada que a sociedade como um todo precisa manter em processo de construção.
Encerro minha fala com a contribuição de um dos nossos usuários que traduziu como ninguém qual é a função e o lugar de um CAPS no seu território de abrangência. Certa vez ao perguntar por que estava sumido ele me disse algo mais ou menos assim: “É Dra. Rita eu já vim muito aqui no CAPS, mas agora venho só de vez em quando porque estou bem. Mas eu fico tranqüilo só de saber que o CAPS continua aqui, porque se eu pirar de novo é pra cá que eu quero vir.” Então eu digo a vocês que agora, mais do que nunca, o CAPS “Geninho” está plantado aqui e se acaso alguém de vocês enlouquecer de alguma maneira, nossas portas estarão abertas para recebê-los.
Rita de Cássia de A. Almeida
Coordenadora de Saúde Mental de Lima Duarte
Coordenadora do CAPS CasAberta Dr. Luiz Eugênio Godinho Delgado “Geninho”
sábado, 30 de junho de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Porque amamos os super-heróis?
Por Rita de Cássia de A Almeida
Psicanalista
Eu também adoro os super-heróis, especialmente os atormentados, os que têm dúvidas sobre os próprios poderes, os humanos o suficiente para nunca estarem totalmente certos se tais poderes são uma benção ou uma maldição.
Ultimamente têm se produzido muitos filmes protagonizados pelos clássicos heróis dos quadrinhos. Gosto particularmente, daqueles que vão além dos efeitos especiais e da eterna e manjada luta do bem contra o mal e se dedicam a nos revelar a mente atormentada do protagonista, suas fragilidades e, sobretudo, o ônus imposto pelos poderes que receberam, quase sempre, sem o direito de escolha.
A trilogia do Homem-Aranha é um bom exemplo do tipo de filme que sabe explorar muito bem esse aspecto. Demonstra a contradição vivida pelo herói, da leveza ao saltar pelos prédios da cidade para o peso da responsabilidade que lhe recai sobre os ombros: “grandes poderes, grandes responsabilidades”.
Wolverine, o herói mutante, também tem um perfil bastante interessante e bem trabalhado nos filmes da série X-Man. Sempre pouco a vontade na sua condição de herói, tem ainda uma característica peculiar: não consegue usar seus poderes sem sentir dor. É capaz de curar-se rapidamente de qualquer ferimento, mas não é imune a dor, sendo assim, todas as vezes que aciona suas garras de adamantium elas rasgam sua carne e provocam uma dor lancinante, que ele apenas aprendeu a suportar. Carregar satisfação e dor no mesmo pacote também é humano, demasiado humano. Não é incomum que aquilo que nos cause muita satisfação carregue consigo, acesso a dores insuportáveis.
Mas de todos os heróis atormentados Hulk é o meu preferido. Uma pena os últimos filmes deste herói terem explorado mais seus músculos que sua mente atribulada, quase esquizóide. Prefiro o Hulk da década de 80, estrela do seriado Incrível Hulk, de muito sucesso na época. No seriado, Dr. Bruce Banner é um médico cientista que, depois de uma superexposição aos raios gama experimenta uma transformação intensa no corpo - acompanhada de força, resistência e vigor sobre-humanos - sempre que fica com raiva. Raiva essa que nosso herói sempre tenta, mas, nunca consegue controlar. Sendo assim, os atos heróicos do monstro verde, que sempre surge após um acesso de ira, sempre são vistos por Dr. Banner como um erro, um fracasso na tentativa de controlar-se. Fracasso que ele tenta resolver se mudando de uma cidade para outra sempre que Hulk se revela, numa tentativa, também fracassada, de fugir de si mesmo. No final de todo episódio da série, repetia-se a cena de Banner pedindo carona na estrada em direção incerta, cena embalada por uma musiquinha melancólica, aliás, inesquecível.
O que torna Hulk tão especial, a meu ver, é que, diferentemente dos demais heróis, a natureza de seus poderes é involuntária, ou seja, Banner tem muito pouco ou nenhum controle sobre eles. Hulk é para Banner um outro, um estranho. Neste caso, Banner não goza do poder que lhe foi dado, ao contrário, é o poder de Hulk que goza dele, do seu corpo e da sua vida. Nada mais humano que isso, não?
É dito que somos animais racionais, o que supostamente nos possibilitaria ter o controle sobre nossos instintos, paixões e emoções, mas a verdade é que, a todo momento, somos tomados, atropelados por um outro que nossa razão é incapaz de controlar. O tal monstro verde invariavelmente rouba a cena e aí falamos ou fazemos o que não queríamos, poderíamos ou deveríamos falar ou fazer. Mas existe uma pergunta que Banner certamente se faz e que torna seu tormento ainda mais especial e interessante: sua verdade está em Hulk ou no Dr. Banner? Será ele é um Hulk reprimido por Banner ou um Banner atormentado por Hulk? Essa também é uma dúvida que sempre nos atormenta. Quando falamos ou fazemos algo que não queríamos, onde está o nosso eu? No que estava controlado pela razão ou no que conseguiu escapar dela?
O que me provocou a escrever este texto foi o filme - Os Vingadores - lançado nas últimas semanas, e que eu gostei muito, aliás. Gostei, em especial, pelo Hulk do filme, porque ficou psicologicamente mais parecido com aquele do seriado da década de 80. Dr. Banner, antes de ser convidado para compor o grupo dos Vingadores, encontra-se recluso na Índia, exercendo caridosamente a medicina, evitando assim os estresses que trazem Hulk para a superfície. Fica claro no filme que Banner só aceita se unir aos Vingadores porque lhe garantem que o interesse deles é por seu conhecimento a respeito dos raios gama, ou seja, Hulk não será necessário. Neste momento fica evidente: é Banner negando Hulk.
Mas a maior sacada do filme começa numa conversa entre Tony (o Homem de Ferro) e Dr. Banner, na qual este último, ao tratar de sua condição, se refere ao Hulk como “o outro cara”. Tony, por sua vez, ao perceber o incômodo que Hulk é para Banner, relata a este sua própria experiência de também possuir um estranho em seu corpo, no seu caso, o pequeno dispositivo eletrônico que carrega no peito e que mantém seu coração batendo. O que Tony quer mostrar a Banner é que o mesmo estranho responsável por lhe tornar uma aberração, também é o que lhe possibilitou estar vivo. O médico então conclui: - Você está dizendo que Hulk foi o quem me salvou de sucumbir aos raios gama? Tony não responde... Nem é necessário.
O filme segue e, mais tarde, como era previsível, Hulk irrompe no corpo de Dr. Banner depois que este fica perigosamente preso sob uma viga. E após dar vazão a toda a sua ira, destruindo tudo por onde passa, Hulk se retira para longe, a fim de se acalmar e permitir, então, que Banner retorne. Durante sua ausência, o filme segue e chega ao seu clímax: a aguardada luta do bem contra o mal. E é quando os demais Vingadores já se ocupam desta batalha que Banner aparece entre eles, numa motocicleta. Ao vê-lo chegar em sua frágil forma humana, o Homem de Ferro sabiamente recomenda: - Acho bom você começar a ficar com raiva. E a resposta de Banner é genial, e a meu ver, vale por todo o filme. Ele diz: - Vou te contar meu segredo, (e diz isso enquanto vai se transformando no temível monstro verde e parte com sua fúria para socar o inimigo que avança sobre todos), eu sinto raiva o tempo todo. A cena é genial, porque esta frase é iniciada por Banner e finalizada por Hulk. É possível enxergar nela nosso herói atravessando seu fantasma, se apropriando de sua raiva, aquela que vinha tentando de toda maneira negar e esconder. Vemos Banner convocando e assumindo Hulk, e Hulk raciocinando e falando como Banner. Ali não se trata mais de Banner ou Hulk, mas de uma síntese que inclui Banner e Hulk.
Freud, com seu conceito de inconsciente, nos fez compreender que, ao contrário do que tendemos a crer, o eu não é o senhor em sua própria casa. Lacan, em sua releitura de Freud, também vai tratar desta divisão do sujeito afirmando que o sujeito pensa onde não está e está onde não pensa, nos fazendo concluir que o sujeito, na verdade, está nos dois lugares. Partindo dessa premissa da psicanálise poderíamos então concluir que a verdade do meu herói preferido está em Banner e em Hulk, ou seja, ambos são importantes e necessários. A força de Banner está na ira incontrolável de Hulk e a razão de Hulk provavelmente está na inteligência racional de Banner.
Possivelmente amamos os heróis porque nos identificamos com eles. Também recebemos nossos poderes, não tão extraordinários, é bem verdade, mas igualmente perturbadores. Poderes que, às vezes, nos parecem ser nosso maior defeito, mas ao mesmo tempo os responsáveis por nossos maiores êxitos e vitórias. E como fazer se nossa mais potente força é também, nossa pior maldição? O Hulk dos Vingadores nos dá a dica.
Psicanalista
Eu também adoro os super-heróis, especialmente os atormentados, os que têm dúvidas sobre os próprios poderes, os humanos o suficiente para nunca estarem totalmente certos se tais poderes são uma benção ou uma maldição.
Ultimamente têm se produzido muitos filmes protagonizados pelos clássicos heróis dos quadrinhos. Gosto particularmente, daqueles que vão além dos efeitos especiais e da eterna e manjada luta do bem contra o mal e se dedicam a nos revelar a mente atormentada do protagonista, suas fragilidades e, sobretudo, o ônus imposto pelos poderes que receberam, quase sempre, sem o direito de escolha.
A trilogia do Homem-Aranha é um bom exemplo do tipo de filme que sabe explorar muito bem esse aspecto. Demonstra a contradição vivida pelo herói, da leveza ao saltar pelos prédios da cidade para o peso da responsabilidade que lhe recai sobre os ombros: “grandes poderes, grandes responsabilidades”.
Wolverine, o herói mutante, também tem um perfil bastante interessante e bem trabalhado nos filmes da série X-Man. Sempre pouco a vontade na sua condição de herói, tem ainda uma característica peculiar: não consegue usar seus poderes sem sentir dor. É capaz de curar-se rapidamente de qualquer ferimento, mas não é imune a dor, sendo assim, todas as vezes que aciona suas garras de adamantium elas rasgam sua carne e provocam uma dor lancinante, que ele apenas aprendeu a suportar. Carregar satisfação e dor no mesmo pacote também é humano, demasiado humano. Não é incomum que aquilo que nos cause muita satisfação carregue consigo, acesso a dores insuportáveis.
Mas de todos os heróis atormentados Hulk é o meu preferido. Uma pena os últimos filmes deste herói terem explorado mais seus músculos que sua mente atribulada, quase esquizóide. Prefiro o Hulk da década de 80, estrela do seriado Incrível Hulk, de muito sucesso na época. No seriado, Dr. Bruce Banner é um médico cientista que, depois de uma superexposição aos raios gama experimenta uma transformação intensa no corpo - acompanhada de força, resistência e vigor sobre-humanos - sempre que fica com raiva. Raiva essa que nosso herói sempre tenta, mas, nunca consegue controlar. Sendo assim, os atos heróicos do monstro verde, que sempre surge após um acesso de ira, sempre são vistos por Dr. Banner como um erro, um fracasso na tentativa de controlar-se. Fracasso que ele tenta resolver se mudando de uma cidade para outra sempre que Hulk se revela, numa tentativa, também fracassada, de fugir de si mesmo. No final de todo episódio da série, repetia-se a cena de Banner pedindo carona na estrada em direção incerta, cena embalada por uma musiquinha melancólica, aliás, inesquecível.
O que torna Hulk tão especial, a meu ver, é que, diferentemente dos demais heróis, a natureza de seus poderes é involuntária, ou seja, Banner tem muito pouco ou nenhum controle sobre eles. Hulk é para Banner um outro, um estranho. Neste caso, Banner não goza do poder que lhe foi dado, ao contrário, é o poder de Hulk que goza dele, do seu corpo e da sua vida. Nada mais humano que isso, não?
É dito que somos animais racionais, o que supostamente nos possibilitaria ter o controle sobre nossos instintos, paixões e emoções, mas a verdade é que, a todo momento, somos tomados, atropelados por um outro que nossa razão é incapaz de controlar. O tal monstro verde invariavelmente rouba a cena e aí falamos ou fazemos o que não queríamos, poderíamos ou deveríamos falar ou fazer. Mas existe uma pergunta que Banner certamente se faz e que torna seu tormento ainda mais especial e interessante: sua verdade está em Hulk ou no Dr. Banner? Será ele é um Hulk reprimido por Banner ou um Banner atormentado por Hulk? Essa também é uma dúvida que sempre nos atormenta. Quando falamos ou fazemos algo que não queríamos, onde está o nosso eu? No que estava controlado pela razão ou no que conseguiu escapar dela?
O que me provocou a escrever este texto foi o filme - Os Vingadores - lançado nas últimas semanas, e que eu gostei muito, aliás. Gostei, em especial, pelo Hulk do filme, porque ficou psicologicamente mais parecido com aquele do seriado da década de 80. Dr. Banner, antes de ser convidado para compor o grupo dos Vingadores, encontra-se recluso na Índia, exercendo caridosamente a medicina, evitando assim os estresses que trazem Hulk para a superfície. Fica claro no filme que Banner só aceita se unir aos Vingadores porque lhe garantem que o interesse deles é por seu conhecimento a respeito dos raios gama, ou seja, Hulk não será necessário. Neste momento fica evidente: é Banner negando Hulk.
Mas a maior sacada do filme começa numa conversa entre Tony (o Homem de Ferro) e Dr. Banner, na qual este último, ao tratar de sua condição, se refere ao Hulk como “o outro cara”. Tony, por sua vez, ao perceber o incômodo que Hulk é para Banner, relata a este sua própria experiência de também possuir um estranho em seu corpo, no seu caso, o pequeno dispositivo eletrônico que carrega no peito e que mantém seu coração batendo. O que Tony quer mostrar a Banner é que o mesmo estranho responsável por lhe tornar uma aberração, também é o que lhe possibilitou estar vivo. O médico então conclui: - Você está dizendo que Hulk foi o quem me salvou de sucumbir aos raios gama? Tony não responde... Nem é necessário.
O filme segue e, mais tarde, como era previsível, Hulk irrompe no corpo de Dr. Banner depois que este fica perigosamente preso sob uma viga. E após dar vazão a toda a sua ira, destruindo tudo por onde passa, Hulk se retira para longe, a fim de se acalmar e permitir, então, que Banner retorne. Durante sua ausência, o filme segue e chega ao seu clímax: a aguardada luta do bem contra o mal. E é quando os demais Vingadores já se ocupam desta batalha que Banner aparece entre eles, numa motocicleta. Ao vê-lo chegar em sua frágil forma humana, o Homem de Ferro sabiamente recomenda: - Acho bom você começar a ficar com raiva. E a resposta de Banner é genial, e a meu ver, vale por todo o filme. Ele diz: - Vou te contar meu segredo, (e diz isso enquanto vai se transformando no temível monstro verde e parte com sua fúria para socar o inimigo que avança sobre todos), eu sinto raiva o tempo todo. A cena é genial, porque esta frase é iniciada por Banner e finalizada por Hulk. É possível enxergar nela nosso herói atravessando seu fantasma, se apropriando de sua raiva, aquela que vinha tentando de toda maneira negar e esconder. Vemos Banner convocando e assumindo Hulk, e Hulk raciocinando e falando como Banner. Ali não se trata mais de Banner ou Hulk, mas de uma síntese que inclui Banner e Hulk.
Freud, com seu conceito de inconsciente, nos fez compreender que, ao contrário do que tendemos a crer, o eu não é o senhor em sua própria casa. Lacan, em sua releitura de Freud, também vai tratar desta divisão do sujeito afirmando que o sujeito pensa onde não está e está onde não pensa, nos fazendo concluir que o sujeito, na verdade, está nos dois lugares. Partindo dessa premissa da psicanálise poderíamos então concluir que a verdade do meu herói preferido está em Banner e em Hulk, ou seja, ambos são importantes e necessários. A força de Banner está na ira incontrolável de Hulk e a razão de Hulk provavelmente está na inteligência racional de Banner.
Possivelmente amamos os heróis porque nos identificamos com eles. Também recebemos nossos poderes, não tão extraordinários, é bem verdade, mas igualmente perturbadores. Poderes que, às vezes, nos parecem ser nosso maior defeito, mas ao mesmo tempo os responsáveis por nossos maiores êxitos e vitórias. E como fazer se nossa mais potente força é também, nossa pior maldição? O Hulk dos Vingadores nos dá a dica.
sábado, 7 de abril de 2012
Drogas e situação de rua: o “Consultório de Rua” como estratégia.
Por: Rita de Cássia Araújo Almeida
Trabalhadora da Rede de Saúde Mental - SUS
Esta semana tive a grata satisfação de participar de uma reunião entre o Departamento de Saúde Mental de Juiz de Fora e a Secretaria de Assistência Social, cujo objetivo era apresentar o “Consultório de Rua”: modalidade de intervenção implantada no município há cerca de dois meses, com o propósito de ofertar ações de proteção, promoção, cuidado e prevenção em saúde para população em situação de rua.
O “Consultório de Rua” é uma experiência que surgiu no final da década de 90, em Salvador, com a finalidade de atender a pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social, agravados pelo do uso ou dependência de drogas. A ideia é a de um consultório a céu aberto, itinerante, provido de equipe multiprofissional, que ofereça atendimento no contexto de vida do sujeito em situação de rua, promovendo acessibilidade a serviços de saúde e assistência, garantindo cidadania e exercício de direitos, e resgatando os laços familiares, comunitários e/ou sociais. Os princípios que norteiam tal estratégia são os mesmos do SUS – universalidade, equidade e integralidade – e outros não menos importantes: respeito ao modo de vida do sujeito, respeito aos direitos humanos e a utilização da estratégia de redução de danos.
Atender a demanda por cuidados a pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas tem sido um grande desafio para as políticas públicas nos últimos tempos, especialmente nos casos onde estão associados a eles: situação de rua, miséria social, exclusão, abandono e marginalidade, invariavelmente resultando naquilo que têm se chamado genericamente de “cracolândia”. Muitos municípios estão optando por estratégias meramente higienistas para intervir nesses espaços, sendo que elas podem ser de dois tipos: as que espantam e as que recolhem. As que espantam, vão apenas fazer com que essas pessoas migrem para outro lugar, obviamente que para um lugar semelhante ao anterior. As que recolhem (compulsoriamente ou não) também acreditam que o problema é solucionado quando o levamos para outro local, só que dessa vez apostam em instituições de amparo social ou clínicas de recuperação.
Os resultados dessas estratégias higienistas são semelhantes àqueles que conseguimos ao limpar a sala de estar varrendo a sujeira pra debaixo do tapete, ou seja, maquiagem provisória. As intervenções baseadas no recolhimento se sustentam num princípio clássico do tratamento em saúde: é preciso isolar para tratar. É claro que tal princípio é bem adequado para tratar daquelas doenças onde a contaminação ou o contágio façam parte dos sintomas. Mas em se tratando de uma "doença" onde o isolamento e o prejuízo social já estão instalados, sendo tão nocivos quanto a própria doença, será que o “isolar para tratar” é tão eficaz?
Mais uma vez temos sido tentados a criar novos muros, muros que separem, delimitem e isolem, a primeira vista em nome do tratamento, mas também em nome daquilo que tememos, do que não compreendemos, não aceitamos e não sabemos como lidar. Fizemos assim com os doentes mentais, criamos muros que nos separavam deles, para depois de muitas décadas entendermos que, na verdade, deveríamos ter criado pontes. E afinal, concluímos que as pontes têm sido infinitamente mais eficazes para tratar que os muros. No caso das drogas, seria uma pena gastarmos tempo, material humano e recursos públicos com os muros que já sabemos, mais cedo ou mais tarde, demonstrarão seu fracasso (na verdade, já estão demonstrando).
Os “Consultórios de Rua”, por sua vez, apostam nas pontes. Pontes que acolhem ao invés de recolher e aproximam ao invés de espantar. Imagino que em termos arquitetônicos deva ser muito mais difícil construir pontes do que muros, assim como é muito mais difícil aproximar do que espantar. Acolher também é bem mais trabalhoso que recolher, porque leva em conta o querer de quem está sendo acolhido, ao passo que o recolher só leva em conta o querer de quem recolhe.
Mas, enfim, se estamos procurando as estratégias mais eficientes, estruturadas e duradouras não podemos recuar diante das dificuldades e fico feliz que meu município não tenha recuado. E espero, ansiosamente, que muito mais pontes como essa sejam construídas.
Trabalhadora da Rede de Saúde Mental - SUS
Esta semana tive a grata satisfação de participar de uma reunião entre o Departamento de Saúde Mental de Juiz de Fora e a Secretaria de Assistência Social, cujo objetivo era apresentar o “Consultório de Rua”: modalidade de intervenção implantada no município há cerca de dois meses, com o propósito de ofertar ações de proteção, promoção, cuidado e prevenção em saúde para população em situação de rua.
O “Consultório de Rua” é uma experiência que surgiu no final da década de 90, em Salvador, com a finalidade de atender a pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social, agravados pelo do uso ou dependência de drogas. A ideia é a de um consultório a céu aberto, itinerante, provido de equipe multiprofissional, que ofereça atendimento no contexto de vida do sujeito em situação de rua, promovendo acessibilidade a serviços de saúde e assistência, garantindo cidadania e exercício de direitos, e resgatando os laços familiares, comunitários e/ou sociais. Os princípios que norteiam tal estratégia são os mesmos do SUS – universalidade, equidade e integralidade – e outros não menos importantes: respeito ao modo de vida do sujeito, respeito aos direitos humanos e a utilização da estratégia de redução de danos.
Atender a demanda por cuidados a pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas tem sido um grande desafio para as políticas públicas nos últimos tempos, especialmente nos casos onde estão associados a eles: situação de rua, miséria social, exclusão, abandono e marginalidade, invariavelmente resultando naquilo que têm se chamado genericamente de “cracolândia”. Muitos municípios estão optando por estratégias meramente higienistas para intervir nesses espaços, sendo que elas podem ser de dois tipos: as que espantam e as que recolhem. As que espantam, vão apenas fazer com que essas pessoas migrem para outro lugar, obviamente que para um lugar semelhante ao anterior. As que recolhem (compulsoriamente ou não) também acreditam que o problema é solucionado quando o levamos para outro local, só que dessa vez apostam em instituições de amparo social ou clínicas de recuperação.
Os resultados dessas estratégias higienistas são semelhantes àqueles que conseguimos ao limpar a sala de estar varrendo a sujeira pra debaixo do tapete, ou seja, maquiagem provisória. As intervenções baseadas no recolhimento se sustentam num princípio clássico do tratamento em saúde: é preciso isolar para tratar. É claro que tal princípio é bem adequado para tratar daquelas doenças onde a contaminação ou o contágio façam parte dos sintomas. Mas em se tratando de uma "doença" onde o isolamento e o prejuízo social já estão instalados, sendo tão nocivos quanto a própria doença, será que o “isolar para tratar” é tão eficaz?
Mais uma vez temos sido tentados a criar novos muros, muros que separem, delimitem e isolem, a primeira vista em nome do tratamento, mas também em nome daquilo que tememos, do que não compreendemos, não aceitamos e não sabemos como lidar. Fizemos assim com os doentes mentais, criamos muros que nos separavam deles, para depois de muitas décadas entendermos que, na verdade, deveríamos ter criado pontes. E afinal, concluímos que as pontes têm sido infinitamente mais eficazes para tratar que os muros. No caso das drogas, seria uma pena gastarmos tempo, material humano e recursos públicos com os muros que já sabemos, mais cedo ou mais tarde, demonstrarão seu fracasso (na verdade, já estão demonstrando).
Os “Consultórios de Rua”, por sua vez, apostam nas pontes. Pontes que acolhem ao invés de recolher e aproximam ao invés de espantar. Imagino que em termos arquitetônicos deva ser muito mais difícil construir pontes do que muros, assim como é muito mais difícil aproximar do que espantar. Acolher também é bem mais trabalhoso que recolher, porque leva em conta o querer de quem está sendo acolhido, ao passo que o recolher só leva em conta o querer de quem recolhe.
Mas, enfim, se estamos procurando as estratégias mais eficientes, estruturadas e duradouras não podemos recuar diante das dificuldades e fico feliz que meu município não tenha recuado. E espero, ansiosamente, que muito mais pontes como essa sejam construídas.
sábado, 24 de março de 2012
"Incêndios"
Por Rita de Cássia Araújo Almeida
Psicanalista
Ao acessar a palavra o ser humano perdeu o paraíso para sempre, ou seja, a realidade tornou-se a partir de então, inacessível. E uma das conseqüências do acesso humano à dimensão simbólica da palavra é que toda história de vida é sempre uma ficção. Sempre. Não habitamos o mundo real, habitamos a palavra. E na medida em que é uma ficção, toda história de vida pode ser recontada, até o último momento, ou até mesmo depois da morte.
“Incêndios”, filme de Denis Villeneuve, trata desse tema de maneira brilhante, tão brilhante que quase nos sufoca (talvez seja esse o motivo do título do filme)
A psicanálise se baseia exatamente nessa premissa: a de que a ficção na qual existência de um sujeito se sustenta pode ser reelaborada, redimensionada, reconstruída, reinventada, recontada, sem, obviamente jamais perder a condição de uma ficção. Mas afinal, qual o motor responsável por possibilitar que uma história possa ser recontada? Freud chamou isso de transferência. Propôs então, uma técnica onde o analista se colocaria na condição de suportar a transferência do analisando, que poderia, nessa posição, recontar a própria história. A transferência freudiana, no entanto, nada mais é que um outro nome para o amor. E o que é o amor? A melhor definição de amor para nosso propósito aqui é a de Lacan: “o amor é dar o que não se tem”. Em outras palavras, só é capaz de amar aquele que acredita que alguma coisa lhe falta, ou seja, quem acredita estar completo, pronto e acabado, é incapaz de amar.
Temos assim que o amor é profundamente revolucionário, apenas ele pode dar ao sujeito possibilidade de mudar sua própria história e a história daqueles que o cercam, porque somente por meio amor nos mantemos incompletos, no entendimento de que a nossa história de vida ainda não está pronta, acabada e definida. É somente o amor que nos abre a possibilidade de que alguma coisa ainda está por vir. Pode haver algo mais revolucionário que isso?
Voltando ao filme,“Incêndios” conta a história de uma mulher, Nawal Marwan, que tem sua história recontada com a ajuda dos filhos, Jeanne e Simon, e cujo ponto de partida é a leitura do seu testamento. Nawal Marwan é movida pelo amor, ou seja, por uma falta: a perda de um filho que passou a vida procurando. Ao viabilizar esse reencontro com o filho perdido pela mão de seus filhos, já que ela mesma está morta, nossa heroína provoca uma revolução tão intensa que é capaz de modificar não apenas a sua própria história, mas a que é contada antes dela e a que será contada depois de sua morte, por seus filhos e netos, e todas as gerações que lhe sucederem. Nawal Marwan nos faz entender que a história de uma vida não inicia com um nascimento biológico e nem termina com a morte, já estava sendo contada antes e, certamente, continuará sendo contada depois. A tragédia que o filme aborda, trata da limitação da nossa existência biológica, e ao mesmo tempo toca na dimensão da eternidade que pode ser alcançada no plano simbólico, quando o amor cria uma falta suficiente para impedir que uma história seja completada, ou seja, chegue ao seu fim.
Nawal Marwan afirma, em certo momento, que o amor foi capaz de arrebentar a corrente do ódio. O ódio ao qual ela se refere é aquele que alimenta os conflitos e guerras em sua terra natal, a Palestina, ódio no qual sua própria história está incrustada. Enquanto o ódio apenas lhe permitia repetir uma história que já havia antes dela mesma, o amor produz em Nawal Marwan um movimento libertador e revolucionário, o de que sua história não está pronta e definida, não está completa, podendo, por isso, ser modificada.
“Incêndios” nos arrebata de muitas maneiras diferentes. A partir dele entendemos que nenhuma tragédia, por mais desgraçada e vil, nunca fica impassível diante do amor. O amor é capaz de reinventar qualquer história, é capaz de sustentar até mesmo uma operação matemática que nos parece absurda; movido pelo amor 1+1 pode ser igual a 1, como nos faz concluir o filme. Enfim entendemos que a morte não é o fim de uma história, a morte chega quando o amor acaba.
Para encerrar, só me resta aplaudir este filme de pé e recomenda-lo. Mas, cuidado, para entrar nesse “Incêndio” recomendo um balão de oxigênio.
Psicanalista
Ao acessar a palavra o ser humano perdeu o paraíso para sempre, ou seja, a realidade tornou-se a partir de então, inacessível. E uma das conseqüências do acesso humano à dimensão simbólica da palavra é que toda história de vida é sempre uma ficção. Sempre. Não habitamos o mundo real, habitamos a palavra. E na medida em que é uma ficção, toda história de vida pode ser recontada, até o último momento, ou até mesmo depois da morte.
“Incêndios”, filme de Denis Villeneuve, trata desse tema de maneira brilhante, tão brilhante que quase nos sufoca (talvez seja esse o motivo do título do filme)
A psicanálise se baseia exatamente nessa premissa: a de que a ficção na qual existência de um sujeito se sustenta pode ser reelaborada, redimensionada, reconstruída, reinventada, recontada, sem, obviamente jamais perder a condição de uma ficção. Mas afinal, qual o motor responsável por possibilitar que uma história possa ser recontada? Freud chamou isso de transferência. Propôs então, uma técnica onde o analista se colocaria na condição de suportar a transferência do analisando, que poderia, nessa posição, recontar a própria história. A transferência freudiana, no entanto, nada mais é que um outro nome para o amor. E o que é o amor? A melhor definição de amor para nosso propósito aqui é a de Lacan: “o amor é dar o que não se tem”. Em outras palavras, só é capaz de amar aquele que acredita que alguma coisa lhe falta, ou seja, quem acredita estar completo, pronto e acabado, é incapaz de amar.
Temos assim que o amor é profundamente revolucionário, apenas ele pode dar ao sujeito possibilidade de mudar sua própria história e a história daqueles que o cercam, porque somente por meio amor nos mantemos incompletos, no entendimento de que a nossa história de vida ainda não está pronta, acabada e definida. É somente o amor que nos abre a possibilidade de que alguma coisa ainda está por vir. Pode haver algo mais revolucionário que isso?
Voltando ao filme,“Incêndios” conta a história de uma mulher, Nawal Marwan, que tem sua história recontada com a ajuda dos filhos, Jeanne e Simon, e cujo ponto de partida é a leitura do seu testamento. Nawal Marwan é movida pelo amor, ou seja, por uma falta: a perda de um filho que passou a vida procurando. Ao viabilizar esse reencontro com o filho perdido pela mão de seus filhos, já que ela mesma está morta, nossa heroína provoca uma revolução tão intensa que é capaz de modificar não apenas a sua própria história, mas a que é contada antes dela e a que será contada depois de sua morte, por seus filhos e netos, e todas as gerações que lhe sucederem. Nawal Marwan nos faz entender que a história de uma vida não inicia com um nascimento biológico e nem termina com a morte, já estava sendo contada antes e, certamente, continuará sendo contada depois. A tragédia que o filme aborda, trata da limitação da nossa existência biológica, e ao mesmo tempo toca na dimensão da eternidade que pode ser alcançada no plano simbólico, quando o amor cria uma falta suficiente para impedir que uma história seja completada, ou seja, chegue ao seu fim.
Nawal Marwan afirma, em certo momento, que o amor foi capaz de arrebentar a corrente do ódio. O ódio ao qual ela se refere é aquele que alimenta os conflitos e guerras em sua terra natal, a Palestina, ódio no qual sua própria história está incrustada. Enquanto o ódio apenas lhe permitia repetir uma história que já havia antes dela mesma, o amor produz em Nawal Marwan um movimento libertador e revolucionário, o de que sua história não está pronta e definida, não está completa, podendo, por isso, ser modificada.
“Incêndios” nos arrebata de muitas maneiras diferentes. A partir dele entendemos que nenhuma tragédia, por mais desgraçada e vil, nunca fica impassível diante do amor. O amor é capaz de reinventar qualquer história, é capaz de sustentar até mesmo uma operação matemática que nos parece absurda; movido pelo amor 1+1 pode ser igual a 1, como nos faz concluir o filme. Enfim entendemos que a morte não é o fim de uma história, a morte chega quando o amor acaba.
Para encerrar, só me resta aplaudir este filme de pé e recomenda-lo. Mas, cuidado, para entrar nesse “Incêndio” recomendo um balão de oxigênio.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Porqué yo apoyo a Cuba.
Por: Rita de Cássia de Araújo Almeida
Psicoanalista
Traducción Franco López Marín
Periodista
Texto em português: http://ritadecassiadeaalmeida.blogspot.com/2012/02/sobre-ultimos-soldados-da-guerra-fria-e.html
”Os Últimos Soldados da Guerra Fria” de Fernando Morais es un libro extraordinario. Si no supiéramos que está siendo contado por el autor, tras un fruto de años de trabajo e investigación, podríamos considerarlo como un excelente romance de espías. Sin embargo, no se trata de ficción. La intención del autor es retratar (partiendo de evidencias, registros, documentos, noticias de diarios y relatos de los propios personajes) el escenario político mundial al final de la Guerra Fría. Siendo Cuba y Estados Unidos los protagonistas, lo que vuelve aún más cautivante la obra.
Cuenta la historia que, después de la caída de la Unión Soviética, Cuba se dedicó a estimular el turismo, como una forma de aminorar la crisis económica que se agravaba en la isla, ya que aquel país era su principal socio económico. Durante ese período, grupos anticastristas radicales de Floridad aprovecharon para promover atentados terroristas contra Cuba, con la clara intención de asustar a los turistas, debilitando el gobierno de Fidel Castro. En cinco años, fueron 127 ataques y a pesar de las decenas de reclamos oficiales enviados por Cuba al gobierno estadounidense, ninguna medida fue tomada para reprimirlos.
Fidel llegó a enviar una carta a Bill Clinton, entonces presidente, denunciando organizaciones de extrema derecha que funcionaban en territorio americano, teniendo incluso como ‘palomo mensajero’ a nada menos que Gabriel García Márquez. En esa carta, Fidel da prácticamente una profecía. Al pedir que Clinton se empeñe en abortar las acciones terroristas que estaban siendo maquinada en EE.UU. Fidel defendía que si las medidas no iban a ser tomadas, ‘cualquier país del mundo podrá ser víctima de tales actos’. Años más tarde, como sabemos, EE.UU. serían víctima de atentados terroristas. Sin el apoyo de los EE.UU. y de las organizaciones internacionales, Cuba decir tomar providencias por si misma y crea la Red Vespa: un grupo selecto de doce hombres y dos mujeres que reciben la misión de infiltrarse en algunas de las 41 organizaciones terroristas de extrema derecha en los Estados Unidos, a fin de recoger informaciones que pudiesen anticipar posibles ataques. El libro cuenta, justamente, la increíble historia de esos “soldados” enviados por Fidel a EE.UU., todos travestidos de desertores del régimen cubano.
El libro de Morais nos provoca innumerables emociones, siendo que algunas de ellas nos afectarán con mayor fuerza a nosotros, militantes o partidarios de Izquierda. Y el mayor mérito del libro es contar la historia de las relaciones entre EE.UU. y Cuba de otra perspectiva, diferente de la estadounidense que la gran mayoría acepta como única, sólo por ser considerada la versión oficial. Terminada la lectura, incluso los menos críticos o poco entendidos de política internacional, van a comprender mejor los motivos de algunas conducciones del gobierno cubano y el Bloqueo estadounidense a Cuba les parecerá aún más insano y cruel.
El libro también lanza a la luz una pregunta que intriga a muchos de nosotros: ¿por qué esa pobre y minúscula isla del Caribe, sin ningún poder en el escenario político internacional incomoda tanto al poderoso Estados Unidos?. Y que nadie venga a decir que es el interés americano por ‘la defensa de la democracia’.
Todos sabemos que ese mismo gobierno defendió y sustentó, durante mucho tiempo la cruel dictadura de Fulgencio Batista en la isla caribeña, así como lo hizo con otras dictaduras por el mundo.
Después de leer “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, mi respeto por Cuba y por la Revolución Cubana aumentó aún más. Aún con todos los errores que el Gobierno Cubano pueda haber cometido, no se puede dejar de respetar un país minúsculo, pobre y desprovisto de poder político en el escenario mundial, que aunque con toda la presión y persecución sufrida y víctima de un Bloqueo de medio siglo, haya conseguido mantener índices de desarrollo humano que provocan la envidia de cualquier país del mundo. Para quien no sabe: Cuba tiene una tasa de alfabetización 99,8% (la mayor del mundo según las Naciones Unidas), una tasa de mortalidad infantil de uno para cada 5.000.000 de nacidos (inferior a la de EE.UU) y una expectativa de vida media de 78 años (mayor que la de EE.UU). 98% de los cubanos reciben energía eléctrica y tienen acceso al agua potable y saneamiento básico, el acceso a la salud y a la educación es universal y gratuito. Si la medición del Índice de Desarrollo Humano no lleva en cuenta el PIB per cápita (producto interno bruto) (en ese caso, Cuba pierde puntuación por tener un PIB bajo), Cuba estaría entre los primeros en IDH. O sea, aún tiene el mérito de conseguir hacer más que el propio EE.UU., con mucho, mucho menos.
Después de algunos días necesarios para digerir el impacto de ese libro sobre mis convicciones, lo que puedo decir hoy es que yo apoyo inmensamente a Cuba. Soy hincha de un país que se ha mantenido como único punto de resistencia al capitalismo liberal, prácticamente hegemónico en el mundo actual.Apoyo al pueblo cubano que ha soportados con fuerza y altivez medio siglo de embate y un embargo, luchando contra un Imperio. Hincho para que Cuba continúe en la búsqueda de mejores condiciones para su pueblo, y que lo haga como siempre lo ha hecho, con su propio modo, a partir de sus convicciones e ideologías y no por la influencia de otros. Marx concebía el Comunismo como un movimiento que reacciona a los antagonismos del capitalismo y no como un modelo de sociedad ideal. Siendo así, mientras el capitalismo exista, con sus contradicciones y desigualdades, la ‘hipótesis comunista’, como dice Alain Badiou, permanecerá viva. Badiou afirma aún más: “si esa hipótesis tiene que ser abandonada, entonces no vale más la pena hacer nada en la orden de la acción colectiva. (...) Cada individuo puede cuidar de su vida y no se habla más de eso”.
Es importante aclarar que no se puede confundir ‘hipótesis comunista’ con cualquier atrocidad cometida en nombre del comunismo. También, vale recordar que innumerables atrocidades fueron cometidas a lo largo de la historia en nombre de las más nobles causas: en nombre de la paz, en nombre de Dios o Alá, en nombre de la democracia... la lista es larga.
Siendo así, no existe sociedad ideal, todas, a su modo, poseen sus virtudes y pecados. Pero, la mayor virtud de Cuba, a mi modo de ver, es aún mantener su resistencia; una “piedra en el zapato” del capitalismo mundial. Cuba cumple la misión de aún mantener viva la hipótesis de un mundo en el cual somos considerados seres humanos y no apenas consumidores, donde la naturalez sea vista como una Madre generosa y no como materia prima para ser molida en la máquina consumista (según la WWF, Cuba es el único país del mundo con desarrollo sustentable), y en el cual la noción de solidaridad no es tragada por su versión pervertida: la caridad –quien tiene más (dinero) da a quien tiene menos (los Medios no divulgan, pero después del terremoto que devastó Haití en 2008, a pesar de que las naciones más ricas del mundo prometieron misiones humanitarias monumentales, después de algunos meses, sólo continúan allá, “Médicos sin Fronteras” y la brigada de 1.200 médicos cubanos, especializada en desastres de emergencia, brigada que fue rechazada por los norteamericanos, después de del Huracán Katrina y la primera en llegar y la última en salir de Pakistán, después del terremoto de 2005).
Es por todo eso que refuerzo aqui mi apoyo por Cuba, soy hincha para que ese minúsculo y grandioso país continúe librándonos de un mundo donde el capitalismo sea la única hipótesis posible.
Psicoanalista
Traducción Franco López Marín
Periodista
Texto em português: http://ritadecassiadeaalmeida.blogspot.com/2012/02/sobre-ultimos-soldados-da-guerra-fria-e.html
”Os Últimos Soldados da Guerra Fria” de Fernando Morais es un libro extraordinario. Si no supiéramos que está siendo contado por el autor, tras un fruto de años de trabajo e investigación, podríamos considerarlo como un excelente romance de espías. Sin embargo, no se trata de ficción. La intención del autor es retratar (partiendo de evidencias, registros, documentos, noticias de diarios y relatos de los propios personajes) el escenario político mundial al final de la Guerra Fría. Siendo Cuba y Estados Unidos los protagonistas, lo que vuelve aún más cautivante la obra.
Cuenta la historia que, después de la caída de la Unión Soviética, Cuba se dedicó a estimular el turismo, como una forma de aminorar la crisis económica que se agravaba en la isla, ya que aquel país era su principal socio económico. Durante ese período, grupos anticastristas radicales de Floridad aprovecharon para promover atentados terroristas contra Cuba, con la clara intención de asustar a los turistas, debilitando el gobierno de Fidel Castro. En cinco años, fueron 127 ataques y a pesar de las decenas de reclamos oficiales enviados por Cuba al gobierno estadounidense, ninguna medida fue tomada para reprimirlos.
Fidel llegó a enviar una carta a Bill Clinton, entonces presidente, denunciando organizaciones de extrema derecha que funcionaban en territorio americano, teniendo incluso como ‘palomo mensajero’ a nada menos que Gabriel García Márquez. En esa carta, Fidel da prácticamente una profecía. Al pedir que Clinton se empeñe en abortar las acciones terroristas que estaban siendo maquinada en EE.UU. Fidel defendía que si las medidas no iban a ser tomadas, ‘cualquier país del mundo podrá ser víctima de tales actos’. Años más tarde, como sabemos, EE.UU. serían víctima de atentados terroristas. Sin el apoyo de los EE.UU. y de las organizaciones internacionales, Cuba decir tomar providencias por si misma y crea la Red Vespa: un grupo selecto de doce hombres y dos mujeres que reciben la misión de infiltrarse en algunas de las 41 organizaciones terroristas de extrema derecha en los Estados Unidos, a fin de recoger informaciones que pudiesen anticipar posibles ataques. El libro cuenta, justamente, la increíble historia de esos “soldados” enviados por Fidel a EE.UU., todos travestidos de desertores del régimen cubano.
El libro de Morais nos provoca innumerables emociones, siendo que algunas de ellas nos afectarán con mayor fuerza a nosotros, militantes o partidarios de Izquierda. Y el mayor mérito del libro es contar la historia de las relaciones entre EE.UU. y Cuba de otra perspectiva, diferente de la estadounidense que la gran mayoría acepta como única, sólo por ser considerada la versión oficial. Terminada la lectura, incluso los menos críticos o poco entendidos de política internacional, van a comprender mejor los motivos de algunas conducciones del gobierno cubano y el Bloqueo estadounidense a Cuba les parecerá aún más insano y cruel.
El libro también lanza a la luz una pregunta que intriga a muchos de nosotros: ¿por qué esa pobre y minúscula isla del Caribe, sin ningún poder en el escenario político internacional incomoda tanto al poderoso Estados Unidos?. Y que nadie venga a decir que es el interés americano por ‘la defensa de la democracia’.
Todos sabemos que ese mismo gobierno defendió y sustentó, durante mucho tiempo la cruel dictadura de Fulgencio Batista en la isla caribeña, así como lo hizo con otras dictaduras por el mundo.
Después de leer “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, mi respeto por Cuba y por la Revolución Cubana aumentó aún más. Aún con todos los errores que el Gobierno Cubano pueda haber cometido, no se puede dejar de respetar un país minúsculo, pobre y desprovisto de poder político en el escenario mundial, que aunque con toda la presión y persecución sufrida y víctima de un Bloqueo de medio siglo, haya conseguido mantener índices de desarrollo humano que provocan la envidia de cualquier país del mundo. Para quien no sabe: Cuba tiene una tasa de alfabetización 99,8% (la mayor del mundo según las Naciones Unidas), una tasa de mortalidad infantil de uno para cada 5.000.000 de nacidos (inferior a la de EE.UU) y una expectativa de vida media de 78 años (mayor que la de EE.UU). 98% de los cubanos reciben energía eléctrica y tienen acceso al agua potable y saneamiento básico, el acceso a la salud y a la educación es universal y gratuito. Si la medición del Índice de Desarrollo Humano no lleva en cuenta el PIB per cápita (producto interno bruto) (en ese caso, Cuba pierde puntuación por tener un PIB bajo), Cuba estaría entre los primeros en IDH. O sea, aún tiene el mérito de conseguir hacer más que el propio EE.UU., con mucho, mucho menos.
Después de algunos días necesarios para digerir el impacto de ese libro sobre mis convicciones, lo que puedo decir hoy es que yo apoyo inmensamente a Cuba. Soy hincha de un país que se ha mantenido como único punto de resistencia al capitalismo liberal, prácticamente hegemónico en el mundo actual.Apoyo al pueblo cubano que ha soportados con fuerza y altivez medio siglo de embate y un embargo, luchando contra un Imperio. Hincho para que Cuba continúe en la búsqueda de mejores condiciones para su pueblo, y que lo haga como siempre lo ha hecho, con su propio modo, a partir de sus convicciones e ideologías y no por la influencia de otros. Marx concebía el Comunismo como un movimiento que reacciona a los antagonismos del capitalismo y no como un modelo de sociedad ideal. Siendo así, mientras el capitalismo exista, con sus contradicciones y desigualdades, la ‘hipótesis comunista’, como dice Alain Badiou, permanecerá viva. Badiou afirma aún más: “si esa hipótesis tiene que ser abandonada, entonces no vale más la pena hacer nada en la orden de la acción colectiva. (...) Cada individuo puede cuidar de su vida y no se habla más de eso”.
Es importante aclarar que no se puede confundir ‘hipótesis comunista’ con cualquier atrocidad cometida en nombre del comunismo. También, vale recordar que innumerables atrocidades fueron cometidas a lo largo de la historia en nombre de las más nobles causas: en nombre de la paz, en nombre de Dios o Alá, en nombre de la democracia... la lista es larga.
Siendo así, no existe sociedad ideal, todas, a su modo, poseen sus virtudes y pecados. Pero, la mayor virtud de Cuba, a mi modo de ver, es aún mantener su resistencia; una “piedra en el zapato” del capitalismo mundial. Cuba cumple la misión de aún mantener viva la hipótesis de un mundo en el cual somos considerados seres humanos y no apenas consumidores, donde la naturalez sea vista como una Madre generosa y no como materia prima para ser molida en la máquina consumista (según la WWF, Cuba es el único país del mundo con desarrollo sustentable), y en el cual la noción de solidaridad no es tragada por su versión pervertida: la caridad –quien tiene más (dinero) da a quien tiene menos (los Medios no divulgan, pero después del terremoto que devastó Haití en 2008, a pesar de que las naciones más ricas del mundo prometieron misiones humanitarias monumentales, después de algunos meses, sólo continúan allá, “Médicos sin Fronteras” y la brigada de 1.200 médicos cubanos, especializada en desastres de emergencia, brigada que fue rechazada por los norteamericanos, después de del Huracán Katrina y la primera en llegar y la última en salir de Pakistán, después del terremoto de 2005).
Es por todo eso que refuerzo aqui mi apoyo por Cuba, soy hincha para que ese minúsculo y grandioso país continúe librándonos de un mundo donde el capitalismo sea la única hipótesis posible.
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