A vida mais triste de se viver nunca é aquela que é
Por pior que ela seja
A vida mais agoniada é sempre aquela que poderia ter sido
É a vida no futuro do pretérito
A que imaginamos ter perdido
A que lamentamos não ter experimentado
A que fracassamos sem nunca ter tentado
Nada mais angustiante do que agarrar-se as escolhas que nunca se fez
Ou ao caminho que não se trilhou
Viver no futuro do pretérito é a mais terrível das prisões
É ainda pior que viver no passado
Porque o passado, ao menos um dia foi
O futuro do pretérito nunca será
É uma vida de arrependimentos e lamentos
De amargura, de desilusão
E por algo que nem vingou
É no futuro do pretérito que guardamos nossa covardia
E justificamos o passo que nunca demos
Nele vivemos num luto constante
E sem travessia
Porque se trata de chorar sobre o cadáver de alguém que nunca nasceu
E sentir saudade de algo que nem mesmo tem um rosto
Um cheiro
Uma lembrança...
A pior das maldições
Rita Almeida
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