Pouca gente sabe, mas mulher é pra ser feita com cuidado 
É aos poucos que a gente vai se juntando
Como não há forma para fazer meninas,
A gente chega assim espalhada 
Desengonçada
E logo se depara num desarranjo com a vaidade
Por um apego excessivo ao espelho
E ao amor do outro
Também entendemos logo que, às vezes, doer é a única coisa que se tem
Que sangrar é normal 
E que é preciso sobreviver aos banheiros públicos 
Ao governo dos hormônios 
E à falta de sensibilidade
Mulher é pra ser feita aos pedacinhos 
E a gente aprecia os bem pequenos
Especialmente os detalhes desimportantes
Tudo pode servir 
Pra preencher esse buraco que carregamos
Afinal,
Aprendemos desde cedo que é preciso tapar o vazio
E só mais tarde, bem mais tarde
Entendemos que o vazio é, na verdade, o que temos de melhor
É nossa graça
Rita Almeida
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