Em tempos de criminalização e judicialização da política, talvez seja importante resgatar o sentido da palavra Partido. Partido é o que não é inteiro, assim sendo, um Partido não tem como propósito unificar ou reunir todas as ideias, interesses e propostas. Cada partido representa apenas uma parte dos interesses que transitam na política, e é assim que deve ser. Nesse sentido, essa coisa de "meu Partido é o Brasil" ou "meu Partido é a constituição" é um discurso vazio, que só serve para alienar e enganar, pois supõe que não existam diferentes interesses e posições numa Nação. Esse discurso que se pretende unificado não cabe numa democracia, porque supõe que exista uma forma unificada de pensar e conseqüentemente, uma unica forma de agir.
Acreditar que exista uma unica forma de pensar e agir é fascismo. A riqueza da democracia é exatamente essa: vários Partidos, que são várias partes com suas diferentes concepções e interesses tentando conversar e negociar. Tais negociações podem chegar ou não a um consenso, e não há nenhum problema quando não se chega a um, afinal, as vezes os interesses em jogo são antagônicos. Mas a política é a arte de manter o diálogo aberto mesmo quando as partes são muito diferentes.
Portanto, a ideia de que nós devêssemos nos juntar numa única bandeira para conduzir a crise da política atual parece muito bonita e palatável, mas é pura bobagem. A mesma bobagem que é uma política sustentada na criação de um inimigo comum. Tenho escutado: "não sou de nenhum partido, só quero acabar com a corrupção". Ter a corrupção como inimigo único também é um discurso totalmente vazio para a politica. Até porque, você conhece alguém a favor da corrupção? Então, o desafio que temos pela frente é grande e difícil e se prezamos pela nossa democracia, precisamos aprender que não haverá um discurso único nesse caminho, mas sim discursos partidos, incompletos e imperfeitos. Da muito mais trabalho negociar com essas diferenças, mas é o único modo democrático de faze-lo.
As vezes, também sonhamos com uma receita pronta, um super-herói (Moro, Joaquim Barbosa, Chapolin Colorado), um salvador ( Lula, Aécio, Bolsonaro, Jesus) ou a intervenção de um outro de fora (militar , alienígena, dos EUA) que resolva tudo pra nós. Isso deveria ser uma solução pensada só pelas crianças, a vida adulta requer de nós trabalho e coragem para construir nossas próprias saídas.
Enfim, nesse momento que vive o Brasil é urgente e fundamental tomar partido. Sem esquecer que qualquer partido que você tome, este sera o reflexo de apenas uma parte do contexto, será apenas uma parte da verdade. Melhor dizendo, nenhum Partido está com todas as verdades, está apenas com a verdade que você escolheu defender. Outra coisa importante é entender que aquele que possui interesses diferentes do seu tomará outro tipo de partido e se tornará seu interlocutor político e não seu inimigo.
Vamos ao trabalho, então! E que cada um tome sua parte!
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