Por Rita de Cássia A. Almeida
O JN já foi palco de inúmeras ‘babaquices’, especialmente quando a intenção era privilegiar candidatos e partidos políticos de sua preferência, mas essa semana o programa se superou ao tentar provar que o que atingiu o candidato Serra numa caminhada de campanha não foi uma inocente bolinha de papel, mas um perigosíssimo rolo de durex. Repetindo o mantra do nosso presidente, nunca na história deste país eu assisti a tamanha bizarrice em um telejornal. Foi no mínimo lamentável, para não utilizar outros adjetivos impublicáveis. O JN pareceu, na verdade, uma continuação do programa eleitoral de Serra, ao tentar de toda maneira justificar o fato do referido candidato ter cancelado todos os seus compromissos de campanha do dia e de se submeter a uma tomografia computadorizada para avaliar os danos prováveis causados por uma bolinha de papel calibre A4 ou um rolo de durex de calibre incerto. Mais lamentável ainda é o fato da grande mídia brasileira chamar esse tipo de reportagem de garantia à liberdade de imprensa. Liberdade é claro desde que seja para defender seus interesses políticos, corporativos e econômicos. Liberdade para dar destaque para as notícias que lhe interessam e ocultar outras que consideram menos importantes. Liberdade para publicar inverdades e criar factóides, que tomam uma importância que jamais deveriam tomar. Liberdade para transformar uma disputa presidencial numa discussão rasteira e perversa sobre quem é ou não a favor do aborto, por exemplo, mesmo sabendo que legalizar ou não o aborto não é mérito do Presidente da Republica, mas sim de legislações sujeitas a discussão entre deputados e senadores e participação ampla da sociedade.
Mas a firula plantada e excessivamente valorizada pela direção de campanha de Serra e a peripécia jornalística do casal Bonner reforçando o evento, não contavam com a potência subversiva da internet. Enquanto a TV é capaz de direcionar nossos olhos e ouvidos decidindo por nós o que é a verdade, a internet nos oferece inúmeras verdades possíveis, nos possibilitando escolher.
Quem não ficou somente com a versão da Globo, ouviu o presidente Lula, em mais uma de suas brilhantes tiradas, comparar o Serra com o goleiro Roberto Rojas, que simulou ter sido atingido por um rojão num jogo do Brasil contra o Chile no Maracanã, em 1989, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1990. Rojas chegou a fazer um corte em sua própria testa para valorizar a farsa. Depois disso a Seleção Chilena foi suspensa por quatro anos e Rojas foi banido do esporte.
Inspirada por esta comparação os ‘twitteiros’ de plantão criaram a tag #serrarojas que chegou ao primeiro lugar em acessos no twitter mundial e varou a madrugada dos últimos dias como tema de discussão, crítica e deboche dos internautas. O comentário que eu mais gostei dizia que o médico de Serra, após o resultado da tal tomografia, sugeriu que ele ficasse em repouso durante os próximos quatro anos. Creio que depois deste vexame, o digníssimo candidato não terá mesmo outra escolha.
O JN, por sua vez, deveria ser processado por agressão violenta à inteligência de seus telespectadores. Contratar um perito pra provar se o ‘projétil’ desferido contra o Serra foi bolinha de papel ou rolo de durex foi realmente ridículo. Pra finalizar, vou repetir um dos comentários postados no twitter: ‘Acabei de assistir o JN e minha inteligência foi agredida violentamente. Vocês me dão licença, mas eu vou fazer uma tomografia pra ver a gravidade da lesão’.
22 de outubro de 2010
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