Por: Rita de Cássia de Araújo Almeida
A personagem da semana certamente foi Susan Boyle. Uma mulher de meia idade e sem nenhum atributo que atenda ao nosso padrão de beleza atual, que apareceu na TV vestida com um modelito estranho e sem graça e ganhou o mundo. Em termos mais chulos diríamos que Susan é uma mulher feia, matuta e desengonçada, uma das concorrentes a se apresentar em um programa de calouros inglês há duas semanas. Inicialmente, Susan é vista com desprezo e ironia pelos jurados e pela platéia, mas bastaram os primeiros 10 segundos de sua performance como cantora para ser ovacionada. Desde então, Susan se tornou um fenômeno. Sua apresentação foi uma das mais acessadas na internet nas últimas semanas e virou notícia em inúmeros jornais e emissoras de TV, aqui e em todo o mundo. Um site brasileiro mantinha em sua página inicial a seguinte pergunta: “Porque todos amam Susan Boyle?” É difícil responder a esta pergunta e talvez não haja apenas uma resposta, mas a surpresa e o desconcerto que Susan nos provoca, seguramente estão entre as explicações a respeito dessa questão. Uma das juradas do programa, antes de dar a Susan o seu “sim”, afirma: “O que aconteceu aqui é um alerta para todos nós.” Sim, acredito que o “fenômeno Susan” seja um alerta para todos nós, um alerta sobre o quanto nos deixamos levar pelas aparências, diz respeito ao quanto nos avaliamos e avaliamos os outros pela imagem. Susan tem, é claro, uma voz belíssima e poderosa e sua música, cantada com a alma de uma estrela, emociona, arranca lágrimas e êxtase. Entretanto, acredito que o que mais toca as pessoas que assistiram e assistem Susan, seja a soma disso tudo que já foi dito com a total nudez dessa mulher no palco. Sim, Susan aparece nua, muito mais nua que aquelas mulheres que ficam penduradas nas bancas de jornal – meros arremedos retocados de mulher. Há muito não víamos – pelo menos na mídia – uma mulher tão nua e autêntica quanto Susan. Sem retoques, sem maquiagem, sem “banho de loja”; sem artifício algum para conquistar os jurados e a platéia através sua estampa. Susan chega nua ao palco e, sem nenhum pudor canta, mostrando ao mundo sua autêntica beleza. Acredito ser essa a grande novidade que Susan mostra e que nos faz amá-la. Talvez estejamos cansados de tanta gente com cara de estampa de revista feminina: gente retocada demais, ajeitada demais, esticada demais, arrumada demais, formatada demais e humana de menos. Mas, estando no mundo em que vivemos é de se esperar que uma das primeiras perguntas feitas a Susan depois da fama repentina seja esta: “Você mudará sua aparência?” E ela responde: “Porque deveria mudar?” Mas, dias depois a manchete é a seguinte: “Susan Boyle muda de visual após fama.” E eu penso comigo: “Que pena! Eles não entenderam nada.”
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