Por: Rita de Cássia de A. Almeida
Ao final de cada eleição toma conta de nós uma grata sensação de dever cumprido, no entanto, é preciso que tenhamos cuidado para não confundir “dever cumprido” com “lavar as mãos”. Lavamos as mãos quando acreditamos que votar é simplesmente passar adiante a responsabilidade do cuidado de nossa cidade para os eleitos: prefeito, vice-prefeito, vereadoras e vereadores. Lavamos as mãos quando votamos no intento de escolher algumas pessoas que resolverão por nós os problemas de nossa cidade, de nossa comunidade ou, o que é ainda pior, nossos problemas pessoais. Lavamos as mãos quando nos damos o direito de “deitar em berço esplendido” e dormir até as próximas eleições, apenas esperando que “os eleitos” exerçam competente e eticamente suas funções. Lavamos as mãos quando criticamos os atos do prefeito eleito com as sábias palavras: “-Ainda bem que eu não votei nele!”, como se isso fizesse diferença.
A nossa ex-ministra do meio-ambiente Marina Silva, em entrevista coletiva após pedir demissão do cargo, disse uma coisa que me ensinou muito sobre a democracia. Ela disse que em qualquer sistema de gestão, seja ele público ou privado, é muito fácil governar “para as pessoas” ou “pelas pessoas”, o grande desafio é, no entanto, governar “com as pessoas”. Esta experiência que ela cita qualquer pai ou mãe de família conhece muito bem, afinal é muito mais fácil e rápido resolver uma situação familiar qualquer dizendo assim: “- Vai ser deste jeito, porque eu decidi assim e pronto”. O difícil é, por outro lado, reunir a família, permitir que todos sejam ouvidos e construir coletivamente uma decisão, que ainda sim, provavelmente não agradará a todos. Aprendemos com isso que um sistema democrático não pode se pretender fácil, rápido ou isento de conflitos, o que implica em concordarmos com a nossa saudosa ex-ministra: governar “com as pessoas” é difícil, dá muito trabalho. Este tem sido o desafio dos governos democráticos, desafio que se impõe não apenas para o gestor, mas especialmente, para aqueles que estarão partilhando “com o gestor” a responsabilidade, o ônus e o bônus, de cada decisão, ou seja, cada um de nós. Sendo assim, voto não é um presente que damos a alguém, é uma aliança de compromisso que nos une por quatro anos àqueles que coletivamente elegemos.
Enfim, as eleições, ao contrário do que às vezes somos tentados a considerar, não encerram nada, elas abrem o início de um novo ciclo. Sendo assim, desejo que o pensamento que nos venha, terminado mais um pleito municipal, não seja o: “Ufa! Acabou!” mas sim o: “Que bom que poderemos recomeçar!”. Recomeçar uma nova fase, uma nova gestão municipal, que não pode de maneira nenhuma ficar nas mãos do prefeito eleito e de mais uma meia dúzia de escolhidos (e cabe a nós vigiarmos para que isso não aconteça). Ninguém foi mais perfeito para descrever este momento pós-eleição do que um amigo, nas suas sabias palavras resumiu todo este artigo me mandando um e-mail assim: “Agora é hora de segurar o andor, senão o santo cai mesmo.”
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