terça-feira, 8 de agosto de 2017

Orientação espacial nunca foi meu forte. Sou capaz de me perder no supermercado, entre a sessão de material de limpeza e a de bebidas; é constrangedor. Minha sorte é ter o sol em peixes pra poder botar a culpa no signo. Ter que assumir sozinha minha incapacidade para saber “de onde vim e para onde vou”, não sendo essa uma questão filosófica, seria muito frustrante.

Eu sempre achei que isso iria melhorar com a idade, que fosse algum tipo de imaturidade ou inabilidade que ao longo da vida pudesse ser treinável, mas ao contrário, a coisa vem piorando. Por outro lado, a maturidade, se não ajudou a me orientar melhor, me ajudou a não ficar tão incomodada com essa minha deficiência, afinal, ela rendeu alguns atrasos e enganos, mas, por outro lado, muitos caminhos novos e histórias pra contar.
O mais engraçado é que meu companheiro de viagem (que por convenção chamo de marido) também não é lá muito bom nesse quesito. Já nos perdemos muito em 26 anos de estrada juntos; eu, por ter um universo mental povoado e intenso demais, e ele, por necessidade de falar e socializar. E não houve tecnologia que nos livrasse de tal sintoma.

Na nossa “lua-de-mel”, pra vocês entenderem, decidimos sair “sem rumo” na Brasília 76 dele. Com pouco dinheiro e muito amor, o “sem rumo”, no nosso caso, foi levado ao pé da letra. Quase chegamos em Visconde de Mauá tentando ir a São Tomé das Letras e passamos uma tarde em Baependi acreditando estar em Caxambu. Se essa coisa desorientada transmitir por genes, nossos filhos estão ferrados, coitados. E vocês acreditam que até hoje ele espera que eu o ajude a se orientar numa viagem? Aconteceu agora, de novo. Me comove isso! É quando tenho certeza que ele me ama. Esperar o melhor de alguém no seu quesito mais débil – se isso não é amor eu não sei o que pode ser.

O fato é que nunca superamos esse problema comum. Volta e meia erramos um caminho. Aconteceu agora, de novo. Tô escrevendo esse texto por isso. Mas, apesar de não termos superado a nossa tendência para perder o rumo, paramos de culpar ou ficar bravos um com o outro quando acontece. A gente ri e inventa outro roteiro. Aconteceu agora, de novo.

Eu disse a ele que temo pela nossa velhice juntos, se assim acontecer. Mas, em seguida achei bobagem minha. Vai ser como sempre foi: vamos sempre poder escolher se ainda queremos nos perder juntos ou não, se é que vocês me entendem.

Rita Almeida

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário.