Eu e uma amiga, numa mesa de bar na calçada, abordadas por uma senhorinha sorridente, que diz ter nos achado lindas. Perguntou se éramos irmãs, deixou um abraço pras nossas mães e, antes de seguir seu caminho, pediu que Deus nos abençoasse. Espontaneidade, delicadeza e alguns poucos minutos, que interromperam nossa conversa, roubaram nosso sorriso e algumas palavras de gratidão.
A tal senhorinha não saiu da minha cabeça por dias, e nem entendi muito o porquê, a princípio. Só depois... É que ela me fez pensar o quanto eu amo o acaso. Tenho fé profunda naquilo que me surpreende.
Hoje, me agarro a muito poucas crenças, fui perdendo quase todas ao longo da vida. A crença é algo que nos orienta, é verdade, mas que, por outro lado, nos prende a uma verdade, assim, optei por abrir mão de quase todas. Tenho uma para conseguir levantar da cama pela manhã e tomar meu primeiro café, e algumas poucas que não me deixam desistir no meio do dia. Já pra dormir, eu não costumo usar nenhuma crença, só o cansaço, isso quando a angústia não chega primeiro.
A tal senhorinha me fez lembrar que eu creio, sobretudo, na sinceridade e espontaneidade do acaso, pois só o acaso pode ser totalmente autêntico; descolado de qualquer protocolo, arranjo, sintoma ou repetição. E quando ele vem acompanhado de beleza e delicadeza, é das coisas que, realmente, vale a pena acreditar. Eu só me levanto pela manhã porque creio que, naquele dia, o acaso vai me presentear com sua sinceridade espontânea. Creio profundamente nas contingências da vida, num evento inesperado que interromperá minha agenda, interceptará meu caminho e me fará sair da rotina ou olhar em outra direção.
Minha oração diária tem sido: Vamos lá vida! Me surpreenda! Mas vem com beleza e delicadeza, sua linda! É que eu sou frágil.
Rita Almeida
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