por Rita Almeida
Quem me conhece sabe que eu não fujo de um bom debate. E gosto especialmente de discutir os três temas que muitos acreditam que se deva evitar: religião, futebol e política. Mas o exercício que eu mais prezo em um bom debate é o uso da razão, do intelecto; argumentar racionalmente é o que me move numa discussão. Admito que seja bem difícil fazer isso quando é a seleção ou o flamengo que estão em campo, mas, eu juro que me esforço.
Nesse segundo turno das eleições presidenciais sinto muita falta de um bom debate, aquele travado no campo das ideias. Sinto falta de argumentos elaborados no cérebro e não no fígado. O discurso de ódio ao PT, infelizmente colou e o PSDB está deitando e rolando nele para tentar eleger Aécio. Então, todo argumento que escuto para votar no Aécio se resume ao #foraPT.
Na verdade tive apenas um bom debate nesse segundo turno, e foi com um amigo que sempre foi eleitor do PSDB. A coerência do seu discurso e de seus argumentos me fez respeitar sua escolha e apertar sua mão. Resumidamente o que ele me disse foi: “Tudo bem! Nós tivemos por 12 anos governos que se dedicaram aos pobres, investindo em políticas públicas e programas sociais, mas agora é hora de fazer a economia crescer!”
Antônio Prata outro dia em sua coluna na Folha, “O chapeiro e o dono da padaria”, usou uma metáfora muito interessante para falar das diferenças entre o Governo Dilma e um provável Governo Aécio, partindo do discurso dos seus respectivos economistas: Guido Mantega e Armínio Fraga. Me apropriando de tal metáfora eu diria o seguinte: Os governos Lula e Dilma melhoraram muito a vida do chapeiro (trabalhador da padaria). Seu salário teve aumento real, ele passou a ter mais acesso a políticas públicas, conseguiu credito para adquirir sua casa própria ou até um carro. O poder de compra do chapeiro aumentou tanto que ele, possivelmente, tem hoje uma TV de tela plana igualzinha à do dono da padaria. Além disso, seus filhos terão, pela primeira vez, a oportunidade de quebrar o ciclo de chapeiros da família pois, sendo mais escolarizados que o pai e com chances até de entrar até no curso superior, poderão escolher uma outra profissão. Mas o problema é que o dono da padaria está preocupado. Com o aumento do poder de compra dos assalariados ele até tinha aumentado as vendas e, por isso, ampliou a padaria e abriu novas filiais. Mas nos últimos tempos ele está percebendo que este crescimento esgotou e ele precisa de um governo que o socorra, ainda que isso implique em interromper ou reduzir os benefícios dirigidos aos chapeiros. Até porque ele acredita que se sua padaria minguar o chapeiro poderá ficar desempregado.
Diante do argumento feito pelo viés dos donos de padaria, eu não posso deixar de respeitar a justificativa do meu amigo em votar no Aécio, mesmo não concordando com ela. Isso sim é um argumento plausível, racional, coerente e corretíssimo visto por esse ângulo. E sua argumentação me ajudou ainda mais a reafirmar minha posição, pois, por mais que eu compreenda a preocupação do dono da padaria e do meu amigo, eu ainda voto em nome do chapeiro, é com ele que me preocupo mais. Até porque eu não acredito que uma melhoria nas finanças na padaria vá refletir automaticamente na melhoria das condições de vida do chapeiro sem que o Estado e as leis intervenham.
Então, meus caros, se alguém vai votar no Aécio pensando no dono da padaria, tem todo o meu respeito, aceito e vou adorar travar um bom debate. Mas quando o argumento é apenas precisamos tirar o PT para acabar com a corrupção, para afastar o comunismo ou o risco de nos tornarmos uma Venezuela (!), porque azul é mais bonito que vermelho ou porque a Dilma é uma vaca estúpida e o Lula um analfabeto, esqueça, não vou me dignar em discutir. Também não concordo quando o argumento em favor de Aécio é que ele irá governar para o chapeiro. É mentira! Basta assistir o debate entre Fraga e Mantega, lá está muito claro quem governa pra quem e por que. E eu até conheço chapeiros que estão votando pelo dono da padaria, se estão cientes disso também respeito, é uma escolha.
Resumindo, meu voto é pelo chapeiro! Quem quiser votar pelo dono da padaria que vote, mas que pelo menos tenha a honestidade de assumir isso. Ah! E não me venha com esse papinho mole que o Brasil é um só e que, portanto, os interesses do dono da padaria são iguais aos do chapeiro! Como disse Antônio Prata: você não precisa ser marxista-leninista pra saber que as necessidades do dono da padaria não são as mesmas do chapeiro, né?
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