Eu tenho que perder a mania de prestar atenção nas conversas das pessoas em fila, ainda mais se o assunto for nossa situação política atual. Mas, infelizmente, quando se trata de tal tema eu ouço mais que o Superman. Preciso entender que, quando alguém puxa assunto de política com uma pessoa aleatória numa fila qualquer, a probabilidade de falar bosta é de 99% - eu não sei se vocês concordam.
Esta semana, estava eu numa fila e meu radar se antenou involuntariamente a uma conversa desse tipo entre dois sujeitos na minha frente. Em poucos minutos aconteceu de eu comprovar minha hipótese probabilística, o cara que puxou o assunto começou a girar sua metralhadora de merda. Quando ele conseguiu juntar numa mesma frase Venezuela, Bolsonaro e corrupção eu entrei em desespero. Eu não sei quanto a vocês, mas eu não consigo não me afetar nessa hora. Até por que já concluo que se trata de um representante vivo da espécie "pato-verde-amarelo-primeiro-a-gente-tira-a-dilma" que não aprendeu nadinha com nossa tragédia dos últimos meses.
Ainda bem que ele não puxou assunto comigo, pois minha mente fértil já tinha resgatado as aulas de kung-fu com Mestre Santos e misturado aos ensinamentos de Tarantino em Kill Bill, a fim de criar uma fantasia onde eu aplicava o golpe dos cinco pontos que explode o coração, do mestre Pai Mei. Todavia, sendo eu uma mulher que crê na importância de se respeitar as leis e regras de convivência que sustentam a cultura humana, preferi recorrer ao Mestre Nietzsche e catar na bolsa meu fone de ouvido sem-fio (coisa maravilhosa, aliás) e ligar no modo aleatório do Spotify. Música sempre me salva! Coincidência ou não em poucos minutos Chico cantava lindamente em meus ouvidos:
Pai, afasta de mim esse cálice! ♪♫♬
Amém! - eu orei com Chico - Amém!
Rita Almeida
Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...
terça-feira, 8 de agosto de 2017
Você sabe que seu filho cresceu e você também, quando ele te faz uma pergunta importante e sua resposta é apenas um "não sei" sem nenhuma angústia.
A parte mais difícil de ser mãe, no meu entendimento, não é trocar fraldas ou perder noites de sono, não é a preocupação diária nem mesmo as broncas infindáveis. A parte mais difícil são as primeiras vezes que você se sente, realmente, desnecessária.
A mágica da maternidade está muito ligada ao tanto de narcicismo que ela nos proporciona: nos sentimos importantes ou até imprescindíveis para alguém. Sendo assim, deixar cair esse lugar é a parte mais dura nessa jornada - eu acho.
É em nome desse narcisismo que acreditamos que sempre sabemos tudo e o que é melhor para nossos filhos. É em nome desse narcisismo que os esperamos acordadas quando saem à noite, acreditando que nossa insônia teria o poder de protegê- los do mundo lá fora. É em nome desse narcisismo que teimamos em ser as magas na previsão do tempo e as bruxas das poções mágicas. E é duro admitir que não somos nada disso. É difícil a travessia de assumir que somos apenas mulheres comuns que escolheram doar uma parte de si para outro ser (o que já é incrível).
Mas muitas mulheres, uma vez que foram mães, não conseguem fazer essa travessia de volta ao feminino. Me perdoem as que enchem a boca pra dizer que os seus rebentos sempre serão os "filhinhos da mamãe", mas eu não pretendo repetir tal mantra. Chamam isso de amor incondicional, eu chamaria de aprisionamento ao narcicismo da maternidade. Narcisismo que aprisiona mães e filhos
Tenho dois filhos adultos (22 e 21) para os quais já me sinto bastante desnecessária. Com minha caçula (de 11 anos) estou tendo as primeiras experiências de queda de lugar, e, como das outras vezes, não tem sido fácil, mas pretendo seguir na mesma direção. Óbvio que eu nunca deixarei de ser a mãe deles e que vou ama-los por toda a vida, mas eu espero ser, um dia, uma mãe totalmente desnecessária; ser capaz ama-los para além do meu narcisimo. E espero, também, ter o amor deles ainda assim. Quem sabe tenho essa sorte?
Rita Almeida
A parte mais difícil de ser mãe, no meu entendimento, não é trocar fraldas ou perder noites de sono, não é a preocupação diária nem mesmo as broncas infindáveis. A parte mais difícil são as primeiras vezes que você se sente, realmente, desnecessária.
A mágica da maternidade está muito ligada ao tanto de narcicismo que ela nos proporciona: nos sentimos importantes ou até imprescindíveis para alguém. Sendo assim, deixar cair esse lugar é a parte mais dura nessa jornada - eu acho.
É em nome desse narcisismo que acreditamos que sempre sabemos tudo e o que é melhor para nossos filhos. É em nome desse narcisismo que os esperamos acordadas quando saem à noite, acreditando que nossa insônia teria o poder de protegê- los do mundo lá fora. É em nome desse narcisismo que teimamos em ser as magas na previsão do tempo e as bruxas das poções mágicas. E é duro admitir que não somos nada disso. É difícil a travessia de assumir que somos apenas mulheres comuns que escolheram doar uma parte de si para outro ser (o que já é incrível).
Mas muitas mulheres, uma vez que foram mães, não conseguem fazer essa travessia de volta ao feminino. Me perdoem as que enchem a boca pra dizer que os seus rebentos sempre serão os "filhinhos da mamãe", mas eu não pretendo repetir tal mantra. Chamam isso de amor incondicional, eu chamaria de aprisionamento ao narcicismo da maternidade. Narcisismo que aprisiona mães e filhos
Tenho dois filhos adultos (22 e 21) para os quais já me sinto bastante desnecessária. Com minha caçula (de 11 anos) estou tendo as primeiras experiências de queda de lugar, e, como das outras vezes, não tem sido fácil, mas pretendo seguir na mesma direção. Óbvio que eu nunca deixarei de ser a mãe deles e que vou ama-los por toda a vida, mas eu espero ser, um dia, uma mãe totalmente desnecessária; ser capaz ama-los para além do meu narcisimo. E espero, também, ter o amor deles ainda assim. Quem sabe tenho essa sorte?
Rita Almeida
Eu comprando casaco com Geovana, minha filha. Vou pegando, nos cabides da loja de departamento em que estamos, as várias opções possíveis e entregando a ela, que ali mesmo vai experimentando a fim de escolher. Num determinado momento ela diz em tom de desespero:
- Mãe, para! Para de me dar opções ok? Não dá pra escolher com tantas opções!
Percebi imediatamente o que minha filhota tinha compreendido do alto dos seus parcos onze anos: ampliar o leque de opções de escolha não ter a ver, necessariamente, com liberdade, ao contrário, pode vir acompanhado por uma limitação, uma impossibilidade angustiante.
Me lembrei, imediatamente, de um livro que li recentemente chamado: O Fim do Homem Soviético. Nele, a autora, Svetlana Aleksievitch, recolhe depoimentos de centenas de homens e mulheres que experienciaram o fim da União Soviética, com a passagem do regime comunista para o capitalista. O que mais me chamou a atenção nos depoimentos foi que, na maior parte deles, a promessa inicial de liberdade da Perestroika, foi vivida, num segundo momento, com frustração e angústia. A esmagadora maioria dos entrevistados se queixa que a liberdade que lhes foi dada com o capitalismo, não foi a que esperavam ou pela qual lutaram. O que eles esperavam como experiência de liberdade era uma ausência de medo, mas, o que tiveram, na verdade, foram apenas mais opções de mercadorias para consumirem. Um dos entrevistados de Svetlana faz um questionamento que ilustra bem isso, e que me pareceu o que minha filha marca com sua intervenção ao meu ato de entupi-la de opções. Ele pergunta: “Uma pessoa que escolhe numa loja entre cem variedades de salame é mais livre do que a pessoa que escolhe entre dez variedades?”
O livro todo de Svetlana é um primor. Recomendo muitíssimo! Porque nos faz refletir sobre o conceito de liberdade que está para nós, que nascemos e vivemos sob a cultura capitalista. Para usar os termos de Lacan, se no comando do discurso capitalista está o consumidor – é ele quem tem sempre razão – então temos que: nosso fetiche seja comprar; nossa relação privilegiada se dá com os objetos-mercadoria (mesmo que isso signifique transformar tudo, inclusive pessoas, em mercadorias); e nosso conceito de liberdade, portanto, tenha relação direta com a ampliação do acesso a tais mercadorias. Em última análise, liberdade para nós, é sinônimo de consumo e dinheiro.
E é isso, exatamente, que a maioria dos entrevistados de Svetlana denuncia, afinal, eles esperavam um outro tipo de liberdade, uma liberdade que tivesse mais relação com a cultura; com ideias e palavras. Entretanto, para o espanto e angústia de muitos, o que o capitalismo trouxe foi tão somente a ilusória liberdade para escolher mercadorias o que, no final das contas, apenas os aprisionou ao imperativo do consumo. Lendo todo o livro é possível entender o quanto o conceito de liberdade é subjetivo, e do quanto ele é, para nós, pervertido pela lógica capitalista. Mas, o mais chocante para mim foi perceber que democracia não tem, necessariamente, nenhuma relação direta com a liberdade. Badiou tem razão quando diz que a democracia que vemos hoje se tornou apenas uma mascarada, um semblante para o capitalismo contemporâneo. Nossa democracia se tornou apenas via de acesso a um maior número de possibilidades, lugares e subjetividades para serem consumidas, e que fazemos consumindo nossa possibilidade de vida. Fora do consumo não somos cidadãos, nessa democracia que inventamos.
Ao escrever este texto, quis muito, num primeiro momento, que minha criança pudesse lê-lo a ponto de compreender a importância da sua conclusão na loja de departamentos. Mas, depois percebi o tamanho da minha arrogância, afinal, ela já entendeu tudo. Ela entendeu o quanto liberdade é um conceito subjetivo, a ponto de saber que reduzir as opções de escolha pode significar se libertar da pressão de ter que escolher. Ela entendeu que o tempo que ela gasta consumindo é tempo precioso, tempo que lhe roubam de vida e daquilo que realmente importa. E, sobretudo, ela entendeu que minha função de mãe/educadora é sim, muitas vezes, poupá-la do insuportável que é não ter nenhuma referência, nenhuma limitação. Ela entendeu que limitar não é necessariamente impedir, ao contrário, pode ser também tornar possível, viabilizar, tornar suportável.
Há uma corrente de pensamento no campo da educação (formal ou não) muito em voga ultimamente, que acredita que tanto melhor é uma educação quanto maior for o número de possibilidades que ela abrir aos educandos. Trazendo o discurso capitalista para nossa reflexão, a educação funcionaria como uma espécie de prateleira de mercadorias onde o educando poderá, dentro de um número infinito de possibilidades, escolher o que quiser, incluindo sua própria categoria subjetiva. Seguindo esse raciocínio, quanto menos castradora uma educação mais satisfatória e rica ela seria. Quanto maior o número de possibilidades ofertadas, especialmente às crianças, melhor para elas.
Entretanto, curiosamente, diante de tantas opções, o que vemos são crianças cada vez mais dispersas, desatentas, distraídas e desinteressadas, muitas delas frequentando categorias psiquiátricas para nomear e medicalizar sua instabilidade emocional, sua falta de atenção e sua incapacidade para lidar com limites e frustrações. Limites que nós não damos e que esperamos que elas encontrem por si só, sem entender o quão trágico e angustiante isso pode ser para elas. Se continuarmos perseguindo tal ideal de não impor limites para nossas crianças, imaginando que isso seria sempre traumático, chegaremos a um teatro surreal onde elas nascerão e não as ensinaremos a falar nossa língua, afinal, elas poderão querer escolher uma outra língua, uma outra nacionalidade, uma outra cultura. A língua materna é um bom exemplo para o que eu estou tentando dizer: ela nos limita sim a um vocabulário e um modo de dizer específicos, mas também é ela que nos possibilita, inclusive, a aprender outra língua.
O grito de minha pequena: “Mãe, para! Para de me dar opções ok?” é o grito de muitas crianças como ela, pedindo desesperadamente que as ajudemos na sua difícil tarefa de apreender este mundo. Nesse sentido, impor limites ao que é ofertado às nossas crianças, reduzir o número de “mercadorias na prateleira” para elas, é sim, possibilitar que elas sejam capazes de escolher. A princípio, ter duas opções pode ser melhor do que ter vinte, já que vinte opções pode significar não conseguir escolher nada e mergulhar no caos e na angústia.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que o ideal educativo de hoje, travestido de moderno, possibilitador e livre de traumas, pode ser apenas o imperativo capitalista atuando com toda a sua perversidade: Consuma! Não há limites para consumir! Que bom que tenho uma filha pra me lembrar disso, provavelmente por que ensinei a ela, meio sem saber que ensinei.
Ah! Quanto às compras dei a Geovana três opções de escolha de casaco, não ofereci outra loja pra ir, e disse a ela qual deles eu tinha gostado mais, dando a ela a possibilidade de acolher ou rejeitar a minha opinião. Ela aceitou minha opinião dessa vez, mas eu sei que é por pouco tempo (risos).
Rita Almeida
- Mãe, para! Para de me dar opções ok? Não dá pra escolher com tantas opções!
Percebi imediatamente o que minha filhota tinha compreendido do alto dos seus parcos onze anos: ampliar o leque de opções de escolha não ter a ver, necessariamente, com liberdade, ao contrário, pode vir acompanhado por uma limitação, uma impossibilidade angustiante.
Me lembrei, imediatamente, de um livro que li recentemente chamado: O Fim do Homem Soviético. Nele, a autora, Svetlana Aleksievitch, recolhe depoimentos de centenas de homens e mulheres que experienciaram o fim da União Soviética, com a passagem do regime comunista para o capitalista. O que mais me chamou a atenção nos depoimentos foi que, na maior parte deles, a promessa inicial de liberdade da Perestroika, foi vivida, num segundo momento, com frustração e angústia. A esmagadora maioria dos entrevistados se queixa que a liberdade que lhes foi dada com o capitalismo, não foi a que esperavam ou pela qual lutaram. O que eles esperavam como experiência de liberdade era uma ausência de medo, mas, o que tiveram, na verdade, foram apenas mais opções de mercadorias para consumirem. Um dos entrevistados de Svetlana faz um questionamento que ilustra bem isso, e que me pareceu o que minha filha marca com sua intervenção ao meu ato de entupi-la de opções. Ele pergunta: “Uma pessoa que escolhe numa loja entre cem variedades de salame é mais livre do que a pessoa que escolhe entre dez variedades?”
O livro todo de Svetlana é um primor. Recomendo muitíssimo! Porque nos faz refletir sobre o conceito de liberdade que está para nós, que nascemos e vivemos sob a cultura capitalista. Para usar os termos de Lacan, se no comando do discurso capitalista está o consumidor – é ele quem tem sempre razão – então temos que: nosso fetiche seja comprar; nossa relação privilegiada se dá com os objetos-mercadoria (mesmo que isso signifique transformar tudo, inclusive pessoas, em mercadorias); e nosso conceito de liberdade, portanto, tenha relação direta com a ampliação do acesso a tais mercadorias. Em última análise, liberdade para nós, é sinônimo de consumo e dinheiro.
E é isso, exatamente, que a maioria dos entrevistados de Svetlana denuncia, afinal, eles esperavam um outro tipo de liberdade, uma liberdade que tivesse mais relação com a cultura; com ideias e palavras. Entretanto, para o espanto e angústia de muitos, o que o capitalismo trouxe foi tão somente a ilusória liberdade para escolher mercadorias o que, no final das contas, apenas os aprisionou ao imperativo do consumo. Lendo todo o livro é possível entender o quanto o conceito de liberdade é subjetivo, e do quanto ele é, para nós, pervertido pela lógica capitalista. Mas, o mais chocante para mim foi perceber que democracia não tem, necessariamente, nenhuma relação direta com a liberdade. Badiou tem razão quando diz que a democracia que vemos hoje se tornou apenas uma mascarada, um semblante para o capitalismo contemporâneo. Nossa democracia se tornou apenas via de acesso a um maior número de possibilidades, lugares e subjetividades para serem consumidas, e que fazemos consumindo nossa possibilidade de vida. Fora do consumo não somos cidadãos, nessa democracia que inventamos.
Ao escrever este texto, quis muito, num primeiro momento, que minha criança pudesse lê-lo a ponto de compreender a importância da sua conclusão na loja de departamentos. Mas, depois percebi o tamanho da minha arrogância, afinal, ela já entendeu tudo. Ela entendeu o quanto liberdade é um conceito subjetivo, a ponto de saber que reduzir as opções de escolha pode significar se libertar da pressão de ter que escolher. Ela entendeu que o tempo que ela gasta consumindo é tempo precioso, tempo que lhe roubam de vida e daquilo que realmente importa. E, sobretudo, ela entendeu que minha função de mãe/educadora é sim, muitas vezes, poupá-la do insuportável que é não ter nenhuma referência, nenhuma limitação. Ela entendeu que limitar não é necessariamente impedir, ao contrário, pode ser também tornar possível, viabilizar, tornar suportável.
Há uma corrente de pensamento no campo da educação (formal ou não) muito em voga ultimamente, que acredita que tanto melhor é uma educação quanto maior for o número de possibilidades que ela abrir aos educandos. Trazendo o discurso capitalista para nossa reflexão, a educação funcionaria como uma espécie de prateleira de mercadorias onde o educando poderá, dentro de um número infinito de possibilidades, escolher o que quiser, incluindo sua própria categoria subjetiva. Seguindo esse raciocínio, quanto menos castradora uma educação mais satisfatória e rica ela seria. Quanto maior o número de possibilidades ofertadas, especialmente às crianças, melhor para elas.
Entretanto, curiosamente, diante de tantas opções, o que vemos são crianças cada vez mais dispersas, desatentas, distraídas e desinteressadas, muitas delas frequentando categorias psiquiátricas para nomear e medicalizar sua instabilidade emocional, sua falta de atenção e sua incapacidade para lidar com limites e frustrações. Limites que nós não damos e que esperamos que elas encontrem por si só, sem entender o quão trágico e angustiante isso pode ser para elas. Se continuarmos perseguindo tal ideal de não impor limites para nossas crianças, imaginando que isso seria sempre traumático, chegaremos a um teatro surreal onde elas nascerão e não as ensinaremos a falar nossa língua, afinal, elas poderão querer escolher uma outra língua, uma outra nacionalidade, uma outra cultura. A língua materna é um bom exemplo para o que eu estou tentando dizer: ela nos limita sim a um vocabulário e um modo de dizer específicos, mas também é ela que nos possibilita, inclusive, a aprender outra língua.
O grito de minha pequena: “Mãe, para! Para de me dar opções ok?” é o grito de muitas crianças como ela, pedindo desesperadamente que as ajudemos na sua difícil tarefa de apreender este mundo. Nesse sentido, impor limites ao que é ofertado às nossas crianças, reduzir o número de “mercadorias na prateleira” para elas, é sim, possibilitar que elas sejam capazes de escolher. A princípio, ter duas opções pode ser melhor do que ter vinte, já que vinte opções pode significar não conseguir escolher nada e mergulhar no caos e na angústia.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que o ideal educativo de hoje, travestido de moderno, possibilitador e livre de traumas, pode ser apenas o imperativo capitalista atuando com toda a sua perversidade: Consuma! Não há limites para consumir! Que bom que tenho uma filha pra me lembrar disso, provavelmente por que ensinei a ela, meio sem saber que ensinei.
Ah! Quanto às compras dei a Geovana três opções de escolha de casaco, não ofereci outra loja pra ir, e disse a ela qual deles eu tinha gostado mais, dando a ela a possibilidade de acolher ou rejeitar a minha opinião. Ela aceitou minha opinião dessa vez, mas eu sei que é por pouco tempo (risos).
Rita Almeida
Tive a infelicidade, agora, de ver um pedaço do Fantástico (sem querer) pra ouvir um psiquiatra explicando o transtorno de personalidade borderline, a fim de justificar o porte de 130kg de entorpecente e fuzil por um branco de classe media alta, filho de desembargadora.
Segundo o psiquiatra o rapaz, com seu transtorno, seria alguém com dificuldades de tolerar a frustração e respeitar as regras e a lei.
Se fosse preto e pobre como é mesmo o nome que a gente usaria?
Bandido é o nome.
Segundo o psiquiatra o rapaz, com seu transtorno, seria alguém com dificuldades de tolerar a frustração e respeitar as regras e a lei.
Se fosse preto e pobre como é mesmo o nome que a gente usaria?
Bandido é o nome.
Minha meta de vida é não julgar ninguém por suas crenças e escolhas, mas algumas coisas, realmente, me fogem a compreensão. Por exemplo, o que faz uma pessoa pensar que a sobrevivência dela a um acidente de avião onde morreram todos os demais, incluindo amigos seus, foi um milagre? Ela acredita que Deus permitiu que todos morressem menos ela, porque se sente tipo um escolhido privilegiado? Alguém me ajuda a entender uma coisa dessas sem pensar que essa pessoa é alguém que precisa se achar a última bolacha do pacote ou que Deus é um sacana perverso?
(Não são perguntas retóricas, quero mesmo saber)
Rita Almeida
(Não são perguntas retóricas, quero mesmo saber)
Rita Almeida
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